Cresceu numa aldeia, abriu uma empresa antes dos 20 anos, mas foi sempre o desporto que o moveu. Tentou a sorte dentro das quatro linhas, sem sucesso. Nos bastidores, porém, tornou-se influente. Agora, manda nos clubes profissionais.
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Aquelas que foram as primeiras eleições para a Liga Portugal disputadas por mais do que um candidato em dez anos tiveram resultado concludente. Sob o lema “Uma Liga para Todos”, Reinaldo Teixeira encabeçou uma lista avassaladora no resultado final, a qual obteve 42 votos a favor (81%), entre eles os de Benfica e Sporting. O F. C. Porto preferiu o adversário, José Gomes Mendes, que não foi além dos dez votos. Além dos dois grandes de Lisboa, o novel presidente da Liga foi escolhido por outras 13 SAD da Liga principal e mais 12 da Liga 2. Uma maioria absolutíssima, portanto.
“Vamos com espírito de missão, de fazer coisas bonitas e marcantes. Queremos marcar uma página na História”, prometia Reinaldo Teixeira antes das eleições, em entrevista à Agência Lusa. Depois da vitória, o tom foi outro. “A realidade é crua e pede urgência”, expressou, logo após ter sido confirmado vencedor, no passado dia 11. “A principal liga portuguesa tem as assimetrias conhecidas e está a cair no ranking da UEFA. O problema de sustentabilidade estende-se à Liga 2 e a um futebol também despido de recursos e de adeptos nas bancadas”, diagnosticou em tom grave. Nada que o demova. “Serão tempos de menos conversa e mais ação”, prometeu.
Desde logo, ouviu palavras de incentivo. O Benfica disse acreditar que ele “saberá enfrentar com determinação os desafios que se colocam ao futebol profissional”. O Sporting, também em comunicado, garantiu confiar que “trabalhará em prol do desenvolvimento, da transparência e da valorização” do desporto-rei nacional. Já o F. C. Porto, apesar de não o ter apoiado, desejou que “contribua para o crescimento sustentado” das competições organizadas pela Liga. E o Sp. Braga, que também preferiu o outro candidato, pediu “liderança firme, convicta e competente”.
Filho de uma família modesta da pequena freguesia de Salir, no concelho algarvio de Loulé, terra de apenas 2500 habitantes, cerca de metade dos que a povoavam nos seus tempos de infância e juventude, Reinaldo Teixeira viu no futebol forma de escape e prazer, chegando mesmo a jogar no clube local. Durante três temporadas figurou no plantel sénior da Associação Cultural de Salir. No entanto, o destino haveria de ser outro.
Desde novo com olho para o negócio, com apenas 19 anos fundou a Garvetur, que se tornou numa das maiores referências da região. Atualmente âncora da Enolagest, a empresa presta serviços de compra, venda e arrendamento de imóveis, fornecendo o “acompanhamento de todo o ciclo de vida do investimento imobiliário e do turismo”, oferecendo um “completo serviço chave na mão”.
De acordo com os últimos números, possui cinco mil propriedades em portefólio, trabalha com mais de 100 consultores e conseguiu ao longo do percurso 200 mil clientes. Um dos negócios que chamou polémica foi o que, em 2004, envolveu Rui Costa, então jogador do AC Milan e hoje presidente do Benfica, o qual acabou por ser ressuscitado durante a campanha eleitoral, com o F. C. Porto a vir a terreiro falar em “conflito de interesses inaceitável”. Reinaldo Teixeira desvalorizou e criticou quem lhe colocava em causa a ética e a dignidade. “Em 42 anos de atividade profissional, com várias empresas, fiz negócios com todas as pessoas, mas com princípios. Façam o favor de questionar com quem tenho trabalhado”, reagiu, em tom de desafio, citado pelo jornal “Record”.
A licenciatura veio apenas aos 45 anos, pelo Instituto Superior Dom Afonso III, em Loulé, encerrado em 2016. O curso foi o de Gestão e Angariação Imobiliária, estava então casado há mais de dez anos e era pai de um filho e de uma filha. Simultaneamente, foi crescendo dentro da Liga Portugal, onde começou em 1996 como delegado. Subiu na hierarquia e acabou a chefiar os colegas de função, a partir de 2015. Pelo meio, liderou a Associação de Futebol do Algarve e foi nomeado cônsul honorário do Brasil em Faro.
Com residência oficial em Vilamoura, terá agora de se dividir entre o seu Algarve de sempre e o Porto, onde a Liga Portugal tem sede oficial. De um extremo ao outro de Portugal. Em nome do futebol profissional.