
Crítica de música
Neste ponto avançado da história da música popular, é difícil dar de caras com uma banda com um som tão reconhecível como os Khruangbin. Não faltam referências neste preparado (já lá vamos), mas quem ouviu a sua languidez, que parte de terra árida e quente para abraçar o Mundo reconhecerá facilmente o trio de Houston, EUA, formado por Laura Lee Ochoa (baixo e voz), Mark Speer (guitarra e voz) e Donald DJ Johnson (bateria e teclados).
A 6 de novembro de 2015, os Khruangbin ("avião" em tailandês) apresentavam-se em álbum com "The Universe smiles upon you". Dez exatos anos depois, reconhecimento alcançado por todo o globo, revelaram "The Universe smiles upon you ii" (edição Dead Oceans/Popstock), o mesmo material da estreia, regravado no mesmo celeiro, com nova sequência e uma substituição. Um gesto invulgar e bem-vindo.
Há qualquer coisa de Baleares, de lentidão balsâmica, nestas releituras. É um ingrediente que vinha salpicando o percurso do trio e que desta vez se torna ostensivo, sobretudo quando são acrescentadas batidas deslizantes como as que orientam "Balls and pins ii" e "Zionsville ii". Planante, líquido, mas bem definido. Quando a guitarra soa iridescente, pensa-se em The Durutti Column. Quando é portadora de melodias pantanosas, ascendem os Fleetwood Mac de "Albatross". Ao engrenar uma cadência disco-funk, como em "People everywhere", escutam-se ecos da Steve Miller Band.
O upgrade em relação ao álbum original é notório; um som mais limpo, expansivo, os ingredientes de cada tema (ainda) mais reduzidos à essência. "The Universe smiles upon you ii" é menos do Texas e, em consonância com os quatro álbuns anteriores, mais do Mundo. Um prodígio de economia de meios, uma masterclass de como fazer tanto com aparentemente tão pouco e com uma visão clara. Perde-se alguma exuberância de referências, mas ganha-se bastante em foco. Com os Khruangbin, menos é muito mais.

