É quase verão, e a música de Pepe Link tem um estado de espírito balear
Crítica de música
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Não deve haver outro género musical simultaneamente tão híbrido, aberto e reconhecível como aquele a que a língua inglesa batizou de Balearic. Vem, como se imagina, das ilhas Baleares, tem o sol e o sal do Mediterrâneo e acolhe uma imensidão de culturas e sonoridades. O som Balearic, feito em todo o globo, baloiça entre o dançável e o contemplativo. Pode ser house, flamenco, jazz de fusão, ambient, disco cósmico, funk, pop, folk psicadélica, bossa nova. Pode ser diurno ou noturno. É internacionalista, sensualista.
Embora largamente associado a Ibiza, todo o arquipélago emite o som Balearic, e é em Palma de Maiorca que se encontra Pepe Link. Leva mais de 30 anos associado à música, primeiro como radialista e DJ, mais tarde como produtor e curador, ocupando um cargo diretivo na cadeia Cappuccino Grand Café. Singles em 12 polegadas são alguns, mas só no ano passado é que Pepe Link alinhavou um álbum, “Scenes from my soul”. Para não perder mais tempo, chega agora “Scenes from my soul II”, ambos lançados pela superlativa Music For Dreams, editora dinamarquesa que encarna o ethos das Baleares até aos ossos.
“Scenes from my soul II” é um crepúsculo mediterrânico feito música. As composições, uma dezena, têm arquitetura variada, ampla e arejada, mobilada com esmero e parcimónia. O ritmo, que aconchega como brisa salgada, pode acolher a expressividade de uma guitarra acústica quase andaluz – caso de “Spanish samurai”. Tanto traz perfume de África – assim é “Warm forest” – como perder-se, na estupenda “Exotronic” e na nostálgica “The 80-90 stance”, em grelhas urbanas europeias de alta densidade eletrónica. Apresenta em “Seduce me”, cantada por Elle Crevani, uma surpreendente e terna canção radiofónica de estrada. E despede-se do ouvinte com os pés na areia de “Cala Sa Nau” – uma praia maiorquina que, dizem, é um paraíso ainda maior do que este dulçor de composição. Um dulçor sem fronteiras.