Participação de políticos em programas de humor e talkshows é cada vez mais comum. Por sua vez, as grandes entrevistas parecem estar a perder peso. Porquê? O que é que isso diz da política e dos políticos de hoje? E que riscos há para a democracia? A visão de Ricardo Araújo Pereira e Júlia Pinheiro. E a análise de especialistas em comunicação e ciência política.
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Há duas semanas, as duas principais figuras da corrida à Câmara Municipal do Porto - Pedro Duarte, líder da coligação "O Porto Somos Nós" (PSD/CDS/IL), e Manuel Pizarro, do PS - mereceram honras de destaque no horário nobre da televisão nacional. Não se tratava, porém, de um debate sobre as eleições autárquicas do próximo domingo, nem de um frente a frente talhado para se esgrimirem argumentos em matéria de habitação, turismo ou segurança. Foram ambos convidados do "Isto é gozar com quem trabalha", programa dominical da SIC que teima em ser um fenómeno de audiências. Durante 20 minutos, foram questionados por Ricardo Araújo Pereira - melhor dizendo, foram ambos provocados em tom humorístico, porque ali a ideia não passa por interrogar quem quer que seja -, trocaram galhardetes sobre o desfecho de dia 12 ou o badalado Conselho de Ministros no Mercado do Bolhão, arriscaram até tiradas humorísticas, sempre com uma boa dose de propaganda à mistura.
Bem antes, no início do ano, já Alexandra Leitão, candidata do PS à Câmara Municipal de Lisboa, tinha marcado presença no mesmo programa. Falou de Pedro Nuno Santos, das aspirações a ser secretária-geral do PS, da queda dos socialistas nas sondagens. Pelo meio, aproveitou para tentar descolar do rótulo de radical, para criticar a polarização reinante, para fazer campanha, ora mais séria, ora mais risonha. O rival, Carlos Moedas, presidente da autarquia lisboeta e agora candidato da coligação "Por ti, Lisboa" (PSD/CDS-PP/IL), também já por lá tinha passado, em 2024. Na altura, começou por oferecer uma botija de hélio, num gesto de aparente fair play face à forma jocosa como o humorista o retratou, comentou provocações sobre aspirações internas, como quem não quer a coisa aproveitou para dizer que gostava "mesmo muito" de ser presidente da Câmara de Lisboa.