
Crítica de música
Por mais voltas que dê - e dá muitas, a dançar - Rochelle Jordan jamais perde o sentido da canção ao longo das 17 faixas de "Through the wall" (edição Empire). É o quinto álbum da cantora e compositora britânica-canadiana residente em Toronto e uma joia de talento e arrebatamento dos corpos.
A interpretação vocal de Rochelle é elegante, dispensando o galgar de decibéis. Além disso, desdobra-se com facilidade perante as necessidades de cada tema, do rap ("Ladida", uma espécie de meia-irmã bastante mais nova do house-pop de "Gypsy woman" de Crystal Waters) ao canto soul e r&b (omnipresente, mas experimentem dançar ao longo de "Crave" sem se lembrarem de Janet Jackson).
O álbum tem cachos de canções perfeitas para pista de dança, quase todas com house nos alicerces, da sensualidade meio cósmica que nos envolve em "Sum" e "The boy" (esta última com produção de Kaytranada), à combinação de batidas e suspiros da irrepreensível "Never enough". Mas também há aparições de drum "n" bass sci-fi em "Words 2 say", e de UK garage acelerado e vozes retalhadas em "Close 2 me".
O r&b está mais na entrega vocal de Rochelle Jordan do que propriamente no som. E quando se fala em r&b, fala-se dos anos de ouro das décadas de 1990 e 2000. Aqui, o apogeu está na suave sinfonia mecânica de "Get it off", que podia ter saído do laboratório de The Neptunes; e em "Sweet sensation", para a qual Dam Funk trouxe o arsenal de sintetizadores e o apreço pelo som da dupla Jimmy Jam/Terry Lewis nos 1980. Em alguns momentos, derrama-se para uma arquitetura instrumental de formas mais vanguardistas: casos de "Bite the bait" e "On 2 something", vindas de uma madrugada pensativa, repletas de interferências digitais moldadas por Jimmy Edgar (na primeira) e Machinedrum (segunda). Dawn Richard, Aaliyah, Kelela e Ciara não andam longe.
"Through the wall" é uma aparição francamente imprevista mas que está lá, no cimo dos lançamentos mais envolventes e inspirados de 2025.

