Envolto numa acesa polémica por causa de um curso sobre criptomoedas que vendeu a 400 euros e que acabou exposto na Internet por um hacker, um dos youtubers mais influentes do momento garante que não teve uma "palavra final" no preço e que já reembolsou toda a gente. Revela que à conta disso perdeu patrocínios e que todos os dias recebe ameaças de morte. O influenciador de 25 anos, com mais de 1,74 milhões de seguidores só no YouTube, acredita que está a ser um "bode expiatório" de esquemas fraudulentos de outros protagonistas do meio - que recusa, porém, denunciar.
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O Windoh tem estado no centro das atenções por ter vendido um curso sobre criptomoedas a 400 euros. Curso esse que foi exposto na Internet e que dizem ser "copy paste" da Wikipédia. O que é que o levou a criar o curso e a estabelecer este valor?
Há um conjunto de fatores para eu ter lançado este curso. Eu já fiz algum dinheiro com criptomoedas. Tive a sorte de conseguir entrar nesse mercado muito cedo e de perceber o que era quando a bitcoin ainda nem valia mil euros. E tive a sorte de encontrar, no meu caminho, pessoas que me foram ensinando. Esta ideia surgiu há muitos meses. Foi no início de 2020. Há quem me chame de youtuber, de influencer. Eu sou mais um empreendedor digital e este foi mais um negócio que eu quis fazer.
Tinha conhecimento do conteúdo do curso quando começou a promovê-lo?
Sabia, mas vou sincero e ainda não o disse publicamente porque acho que as pessoas não iam acreditar: eu não concordei com o preço do curso. Nós somos uma empresa com vários sócios. O preço que colocámos foi o preço que me foi aconselhado por quem tem mais experiência do que eu. Eu nunca vendi ou comprei um curso destes. Já li muito sobre isto, mas não sei sequer que valores são praticados neste tipo de mercado. O que me disseram foi que 400 euros até era barato. Fui um bocadinho influenciado por pessoas que tinham mais experiência do que eu.
Quando o curso vem a público há muitas pessoas que concluem que aquilo é enganoso...
Não há nenhum especialista que tenha a totalidade do curso. O que saiu foi 50% do texto do curso. Faltam os vídeos. O curso tem 90 páginas e cinco horas de vídeo. Se alguém analisar estas 50 páginas pode dizer realmente que não vale os 400 euros. Se bem que isto é muito relativo. Eu não concordei com os 400 euros porque já sabia [que as pessoas] não iam receber tão bem. Estamos em Portugal e 400 euros é muito dinheiro.
Disse que este curso era bastante completo e que tinha sido elaborado por especialistas do mercado, mas nunca chegou a revelar quem foram essas pessoas...
Na verdade, eles nunca quiseram dar a cara. São pessoas incógnitas, que têm o seu trabalho e trabalham em empresas sérias.
Mas não devia conhecer-se pelo menos o nome desses especialistas, a partir do momento em que passou a estar em xeque?
Os nomes podem ver online. São os meus sócios da empresa. Há dois deles, na verdade, que também fizeram o curso e que não são sócios da empresa. São pessoas que contratámos para elaborar mais o curso e que aparecem nos vídeos.
Qual foi o feedback das pessoas que compraram o curso?
Nós contactámos com alguns dos clientes e não tivemos ninguém a dizer que o curso não valia o dinheiro. Isso não aconteceu, mas também foram poucas vendas [16].
Mas houve, pelo menos, um testemunho de insatisfação que se tornou público...
Não consigo confirmar a veracidade dos factos que a pessoa revelou na tal reportagem [da TVI]. Tudo o que ele disse era mentira. Não foi esse o feedback geral que obtivemos.
Porque é que, então, decidiu reembolsar os clientes? Foi só porque parte do curso ficou parcialmente disponível?
Não seria justo para quem gastou 400 euros num produto que saiu cá para fora. Vamos reembolsar toda a gente. Até porque me apercebi, entretanto, que não devia ter entrado neste negócio. Tive vários avisos [para não o fazer] porque tinha havido uma polémica com algumas pessoas que estavam envolvidas em esquemas, mais no mercado do Forex. Felizmente, consigo ler muito bem as massas e tinha ideia de que, se lançasse no timing em que lancei, ia haver muita gente a pôr toda a gente no mesmo saco. Foi exatamente o que aconteceu.
O influenciador Windoh acabou, portanto, sendo influenciado?
Sim, sem dúvida. Gosto muito de ouvir pessoas que têm mais experiência que eu. Nunca me acho o dono da razão nem que sei tudo. Esqueci-me era que estava a apresentar um produto à minha audiência e que deveria ter a palavra final.
O reembolso já aconteceu?
Sim.
Consegue encontrar alguma justificação para ter sido hackeado?
Não consigo compreender, na verdade. Tenho uma história interessante com esta pessoa. Há uns anos, perdi uma iguana. Ela fugiu. Imediatamente, este rapaz criou uma teoria da conspiração de que ela não teria fugido, mas sim que morreu de maus-tratos. Já havia aqui alguma envolvência. Não sei qual a motivação por detrás disso. Não sei se é o desejo de querer estar no meu lugar.
Tem recebido ameaças?
Todos os dias, todos os dias. Tenho aqui uma interessante que diz: "Vais aparecer morto". Isto ontem, e hoje diz: "Vais aparecer morto e não falta muito. Já te temos debaixo de olho". Isto já é mais grave. Nunca fiz nada para despoletar um ódio destes. Não devia ter este stress constantemente na minha cabeça.
Sente que está a ser um bode expiatório destes esquemas ilegais?
Estou, sem dúvida. Não creio que tenha sido premeditado, mas, sem querer, sim, passei a ser um bode expiatório desta gente toda, quando sou provavelmente das únicas pessoas que não tem nenhum esquema, que não tem nada ilegal, que não cometeu nenhum crime.
Mas porque o colocam no mesmo saco?
Várias pessoas que estão envolvidas nas polémicas já foram meus amigos chegados. E as pessoas sabem disso. E, apesar de eu me ter desassociado de alguns deles, as pessoas não têm essa noção porque não venho dizer publicamente que já não me dou com certas pessoas. Houve logo uma associação direta a quem esteve ou está envolvido com estes esquemas.
Conhece alguém que faça parte deste tipo de esquemas fraudulentos?
Sim, sim, claro.
E não denuncia?
Não creio que seja o meu trabalho fazer isso. A última coisa que preciso na minha profissão é de ter inimigos. E sempre me dei bem com toda a gente que me aparece à frente. Não quero problemas com ninguém.
Mas, ao não denunciar, não é estar a ser conivente com estas práticas ilegais?
O que é denunciar? Publicamente?
Sim ou a quem de direito...
Não há necessidade. Isto está mais do que sabido. Já há muita gente com esta informação e que vai eventualmente expor isto. Não preciso de ser eu fazê-lo. Quem me segue não tem que estar a ver eu a expor quem quer que seja. Os meus seguidores querem ver entretenimento.
Mas, para todos os efeitos, vocês são influenciadores. Podem alertar, podem dissuadir para estas práticas... Não revela para não se comprometer ou para não os comprometer?
Não me quero comprometer. Nem a eles. Nunca usei a minha plataforma para denegrir quem quer que seja.
Mas é correto que continuem a burlar miúdos?
Claro que não, claro que não. Até porque muitas dessas pessoas, provavelmente, são do meu público. Não me compete é a mim falar sobre esse tipo de coisas.
O que tem a dizer da petição que pede uma investigação a alguns youtubers?
Não tenho problema nenhum que me investiguem. Só tenho pena de ter o meu nome numa lista com outras pessoas. A maioria das pessoas que está nesta lista eu não conheço.
É amigo do João Barbosa [Numeiro]?
O que é que é ser amigo?
Num vídeo que ele publicou esta semana, desmente uma alegada má relação que possa ter consigo...
Nunca me afastei, a fundo, dele. Temos uma coisa muito ciente. Negócios são negócios. E nós nunca abrimos sequer nada juntos. Aliás, minto, abrimos um negócio de festas em Vila do Conde quando vivíamos juntos. Fizemos uma e acabou.
Mas há quem diga que vocês se chatearam porque lançou um curso de criptomoedas primeiro do que ele...
Não sei se ele ia ou não lançar um curso. A verdade é que estivemos muito afastados durante vários meses por várias questões pessoais.
E quanto ao David Soares [David GYT], o que tem a dizer sobre ele?
Não vou comentar.
É outro dos nomes que as pessoas querem ver exposto...
É possível.
Por algum motivo específico?
[silêncio]
Esta polémica vai ser só uma pedra no seu percurso?
Acredito mesmo que sim. Não vou voltar a cometer erros deste género. Quero afastar-me ao máximo deste deslize.
Ainda se lembra por que razão decidiu ser youtuber?
Eu estava na faculdade e não gostava nada daquilo que estava a fazer. Estive em Psicologia e em Ciências da Comunicação. Sentia muito que aquilo não era para mim. Já no Secundário, eu perdia o meu tempo ao telefone a fazer dinheiro. Era o que fazia na altura com o jogo. Se forem aos meus vídeos mais antigos, explico isto a fundo. É um tópico muito grande. Decidi congelar a matrícula e abrir um canal.
Para quem não o conhece, como se apresentaria?
Sou um jovem que quer vencer na vida. Sou demasiado ambicioso. E nunca coloco um limite naquilo que quero fazer nem naquilo que quero alcançar. Acima de tudo, quero deixar uma marca nas pessoas que me veem. E quero levá-las comigo para a vida e que cresçam comigo.
Mas o conteúdo foi mudando...
Se tivesse ficado preso ao meu conteúdo, tinha ficado estagnado. Quis abranger o máximo de pessoas possível. Sinto que marquei uma geração. Eu e não só.
Considera-se uma pessoa influente?
Sei que sou e assumo essa responsabilidade.
Isto leva-nos novamente à questão sobre a responsabilidade social dos youtubers.
Há uma parte que cortei do vídeo que está no YouTube de explicação sobre o que aconteceu, em que digo que vou falar se vir este tipo de burlas à minha frente. Por outro lado, cortei essa parte porque entendi, e até porque fui aconselhado, que não o deveria fazer. Eu a falar de outra pessoa é dar-lhe palco.
É aconselhado regularmente?
A pessoa com quem eu mais me aconselho é o Wuant. Nós somos bastante criativos. [O meu maior desafio neste momento] é continuar a ser criativo, é continuar a ter novas ideias de conteúdos. Do meu conteúdo sou eu que trato e penso. A minha agência [Luvin] trata dos meus patrocínios.
Mas esta polémica já afetou esse campo?
Sem dúvida. Já perdi vários [patrocínios]. As pessoas não têm a mínima noção do que é que acontece quando apontam o dedo a alguém. Felizmente, há muitas marcas que sabem de onde venho, qual o meu background e que isto não passou de um deslize. Os meus valores e a minha integridade continuam os mesmos.
Como é que é um dia na vida do Windoh?
Com a covid-19, sinto-me preso. Antes disso, andava pela cidade o dia todo, com amigos. Acima de tudo, gosto de andar de carro, de ter o meu cérebro ativo e a mexer para conseguir ter novas ideias. A pandemia afetou mesmo muito. Eu pelo menos uma vez por mês viajava, porque é quando me sinto totalmente livre. A maior benesse que tenho é estar a viajar e a gravar vídeos.
Qual é a perceção que as pessoas, regra geral, têm dos youtubers?
É muito fácil fazer essa descrição. São putos que fazem vídeos para putos [risos]. No meu caso específico, isso talvez aconteça porque há três ou quatro anos fazia vídeos para um target mais jovem, aí nos seus 14, 15 anos. A maneira de eu falar ou como me apresentava era totalmente diferente. Tento entreter as pessoas. Sinto que muita gente ficou presa nessa época em que fazia esse tipo de vídeos. Os mais novos continuam a ver-me, mas o público para quem eu [agora] faço vídeos não é esse. Atingi um número de subscritores tal que não consigo ter noção de quem me vê.
Para o cidadão comum, é fácil compreender que é possível ter lucro com o YouTube?
Isso é matemático. Se as pessoas não conseguem compreender isso......
Mas num outro vídeo tinha dito que os vídeos eram mal pagos. Afinal, é ou não altamente lucrativo?
Isto tem tudo a ver com a forma como as pessoas gerem a sua carreira.
Mas sente que já foi mais?
Sim, já foi mais lucrativo no passado. Não podemos só depender do ad revenue [forma como os youtubers são pagos através de publicidade dentro do YouTube], digamos assim. Mas isso sou eu que sou empreendedor.
Quando um jovem exibe um estilo de vida luxuoso, acima do que é normalmente expectável, não é natural que o público se questione?
Compreendo a abordagem das pessoas, mas também não sinto que me exiba nas redes sociais. Eu simplesmente mostro a minha vida.
A Casa dos Youtubers projetou a sua presença digital?
Quando entrei na Casa dos Youtubers, já era o terceiro ou quarto com mais visualizações, apesar de os meus números serem baixos. Sinto que me projetou bastante, mas também não é por isso que aqui estou hoje. Sinto que isso tem que ver com a forma como geri toda a situação.
Como é que os seus pais e a família olham para a carreira de youtuber? Como é que eles lidam com estes momentos menos bons?
Tendo em conta esta polémica toda, os meus pais pararam completamente o que estavam a fazer. Tive a minha avó a perguntar-me se era verdade o que passou na televisão. Isso foi o que me deixou mais triste. Os meus pais sempre estiverem por dentro de tudo desde o início. Eles, atualmente, estão a par da minha vida. Ao início, foi estranho sair de casa.... Foi um choque para eles que haja tanto ódio gratuito. Eles sabem perfeitamente que há pessoas que me adoram e que sou um orgulho enorme para eles. Mas também há o outro lado da moeda. A minha madrinha, coitadinha, ligou-me a chorar. Foi um filme.
Num cenário hipotético e se a sua carreira acabasse amanhã, como é que gostaria de ser lembrado?
[pausa] Isso é uma boa pergunta. Quero ser lembrado pelos bons momentos que trouxe às pessoas. E, acima de tudo, quero ser lembrado como uma inspiração para todos os jovens que querem ser alguém na vida. Acho que é assim que eles me veem. Não quero mesmo que acabe amanhã a minha carreira. Tenho muitos planos. Mas gostava que fosse dessa maneira: um jovem que quis vingar na vida e que inspirou milhões pelo caminho.
E como se vê daqui a dez anos?
Há cinco anos, eu não tinha sequer um canal de YouTube. Não é muito tempo. E aconteceu o que aconteceu. Ver daqui a dez é complicado. Tenho objetivos antes dos 30 anos.
Quais?
Disso não vamos falar. Tenho muitos objetivos e sinto que estou no caminho certo. Gosto sempre de olhar para estes percalços como algo necessário, como uma aprendizagem. Sinto que isto tinha de acontecer para assentar os pés na terra, para perceber que errei e qual é o caminho a seguir, que não é este.
Que mensagem gostaria de deixar aos que, mesmo com estes percalços, continuam a apoiá-lo?
Fico tão feliz por saber que as pessoas gostam mesmo de mim. Mas, neste momento, é complicado sentir isso na pele. Por causa da pandemia, já não há "meet-and-greets". É nessas alturas que sinto mesmo o amor e o carinho. As pessoas veem-me como um amigo que fala com elas todos os dias. E isto só se sente quando se está com as pessoas.
Ganhar muito dinheiro nunca foi fácil
Texto de Miguel Conde Coutinho
Cursos para perceber produtos financeiros muito complexos, dicas para enriquecer sem esforço e influenciadores digitais que garantem que está ao alcance de todos. Mas não acredite nas promessas. O mais provável é que estes novos métodos que crescem na Net sejam como os anteriores: uma forma rápida de perder dinheiro.
Não deixa de ser irónico - e esclarecedor - que sites que abrem com promessas pedagógicas sobre uma forma rápida de enriquecer terminem todos com um aviso de formulação comum: 75 a 90% das contas de investidores nestes produtos perdem dinheiro. Mas assim é desde que existem ilusionistas. Há sempre pessoas disponíveis para serem iludidas, mesmo que a magia só funcione sendo o mágico a executá-la e todos saibam que há sempre um truque.
Tudo é mais grave quando a ilusão envolve o dinheiro fácil. A realidade surge mais cedo do que tarde para desfazer o engano e faz normalmente toda a gente cair do palco. Mas isto é a Internet, a tentação é muita e os youtubers não costumam falhar nas polémicas. No final de 2019, a Rádio Renascença revelou que Windoh, Wuant ou sirKazzio - os nomes mais populares da "videosfera" nacional - estavam entre youtubers que promoviam sites de apostas ilegais em território nacional. O YouTube bloqueou os vídeos e os casos desapareceram do radar mediático.
Até ao início deste mês, quando uma petição pública pediu à Polícia Judiciária (PJ) que investigasse alegados "burlões", que "usam os mercados financeiros como ilusão [...] para enganar as pessoas burladas". As notícias sobre o abaixo-assinado, que referia pagamentos mensais por dicas para apostas desportivas e cursos para ensinar como investir nestes mercados (e, naturalmente, como ficar rico), tiveram reação quase imediata. Tanto o Ministério Público como a PJ fizeram saber que estavam a investigar e a analisar as aulas, de qualidade duvidosa e vendidas por centenas de euros.
Windoh, Numeiro, DavidGYT, Fx_Papi e outros nomes são apontados na petição, que teve ainda outro efeito. O país ficou a saber que existem novas formas de ilusionismo económico. Já tinha ouvido falar em Forex ou CFD"s? E nas empresas FX Thunder, Wevesting ou Trading Jar? Ou que há pessoas com milhares de seguidores que se exibem no Instagram com Rolex, Porsches e mansões, garantindo que é possível ter tudo se se pagar para ter acesso a sinais ou "pdf"s educativos" preparados por especialistas com "vários anos de experiência no mercado"?
Provavelmente não, embora seja importante fazer uma ressalva. Nem estas siglas significam atividade ilegal, nem estas firmas e os influenciadores que as representam operam necessariamente de forma irregular [ler mais ao lado]. O que acontece é que estas plataformas tentam convencer os seus potenciais clientes usando jargão sobre mercados financeiros extremamente complexos e voláteis, onde na verdade só os corretores profissionais conseguem, quando conseguem, lucrar.
499 euros por ano
A empresa de Windoh, a Blvck Network, prometeu ensinar a investir em criptomoeda ou em ações, cobrando 499 euros anuais por cursos e acesso a uma comunidade que fornece "acompanhamento" e "material informativo/educativo em formato vídeo sobre os mercados". A controvérsia, na semana passada, aumentou de tom depois de o hacker Redlive13 ter entrado no site da empresa e exposto dados sobre clientes que pagaram pelas aulas, motivando uma queixa de Windoh à PJ, por acesso ilícito a informação privada. O pirata informático, que não está identificado, apelidou as aulas como "copy paste da Wikipédia".
Existem mais métodos para vender estes serviços, mas basta uma pesquisa por todos estes nomes e uma viagem por estes sites e contas de Instagram para, pelo menos, desconfiar de tanta fartura: o dinheiro, real ou virtual, nunca caiu do céu.
O mercado Forex existe mesmo, é legal, mas é um perigo
Um dos nomes mais referidos por estes influenciadores e sites é o mercado Forex, um nome inusitado que, apesar de parecer uma invenção de um vendedor de banha da cobra moderno, é real e totalmente legal. O "Foreign Exchange Market" - Forex - é um mercado onde são negociadas divisas, como o euro, o dólar ou a libra esterlina. Essencialmente, neste mercado, tenta-se ganhar dinheiro a prever se uma moeda vai desvalorizar ou valorizar em relação a outra. É pura especulação. No site da Caixa Geral de Depósitos, explica-se que se trata de um mercado "over-the-counter" (OTC), ou seja, que funciona fora da Bolsa e, por isso, qualquer pessoa pode lá investir sem entraves. Acontece, porém, que o Forex é por isso menos regulamentado e menos transparente. E, avisa a Deco, "palco de propostas desonestas, desde operadores que prometem rendimentos garantidos a corretoras com práticas pouco lícitas, que se aproveitam da menor regulamentação nos países onde estão sediadas". Para uma pessoa normal, habitualmente o alvo destas propostas dos influenciadores, pode parecer atrativo: é um mercado que movimenta muito dinheiro e fácil de aceder através de plataformas que têm nascido como cogumelos. Mas é um equívoco pensar-se que é fácil ganhar dinheiro neste sistema muito volátil. "A assimetria de informação e a diferença abissal na capacidade dos vários intervenientes em tomar em risco tornam o mercado Forex um terreno muito perigoso para os pequenos investidores que, na ilusão de obterem ganhos elevados e rápidos, acabam por perder grande parte do seu capital", alerta a Deco.
CFD"s, sinais e muitas palavras em inglês
Ao primeiro olhar, os sites que prometem caminhos fáceis para o paraíso monetário quase parecem credíveis: falam em criptomoeda (que existem e são legais), em CFD"s, contratos também regulares, e usam nomes e termos em inglês como "stocks" (ações) ou "trades" (operações de mercado). Os CFD"s, ou "Contract for Differences", são os contratos que estão na base de uma operação de compra e venda no mercado. Num contrato deste tipo, não há bens ou ações trocados. São apenas compromissos de curto prazo, que estabelecem que os investidores se comprometem a pagar a diferença entre os valores inicial e final dos produtos financeiros associados. Já os sinais, outras das promessas muito alardeadas, são dicas, supostamente muito bem informadas, sobre como se investir no momento em que são enviadas.
Como ganham dinheiro os angariadores e influenciadores?
Em geral, há quatro formas de os angariadores ganharem dinheiro: vendendo cursos especializados que supostamente ensinam como lucrar facilmente com estes produtos financeiros; cobrando por acesso a plataformas com relatórios, sinais e pistas sobre o andamento dos mercados; levando os clientes a depositarem dinheiro (valor mínimo entre os cem e 300 euros) nas corretoras que representam, ganhando uma comissão sobre o depósito inicial; e cobrando uma taxa sobre cada operação que deu lucro (que pode chegar aos 5%).
A CMVM tem lista com as corretoras não autorizadas
A perspetiva de ganhos fáceis e a utilização de influenciadores ou angariadores bem apresentados, muitas vezes autoapelidados de especialistas em finanças, atraem os mais distraídos ou necessitados. Acabam a negociar em plataformas não autorizadas em território nacional e internacional, perdendo o dinheiro que investiram e a capacidade para reclamarem. Muitos, nota a Caixa Geral de Depósitos, "acabam envolvidos em esquemas de pirâmide, ilegais em Portugal". A CMVM tem uma lista de intermediários financeiros não autorizados em todo o Mundo. Vá ao site, entre em "Sistema de difusão de informação" e escolha "Intermediários financeiros". Ainda assim, é importante saber que, mesmo que não constem dessa lista, a utilização destes serviços é extremamente arriscada.
As criptomoedas são regulares mas um investimento arriscado
O Banco de Portugal sublinha que "a atividade de emissão e de comercialização de moedas virtuais não é ilegal ou proibida, sendo, contudo, apenas regulada e supervisionada para efeitos de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo". Quer isto dizer que "não existe qualquer proteção legal que garanta direitos de reembolso ao consumidor que utilize ativos virtuais para fazer pagamentos". Em caso de desvalorização "parcial ou total dos ativos virtuais, não existe um fundo que cubra eventuais perdas dos seus utilizadores". E como tem um valor totalmente sujeito aos muitos humores do mercado especulativo, não é necessariamente um bom investimento nem funciona como reserva de valor, como, por exemplo, o ouro, apesar da atual valorização astronómica. A primeira e mais valiosa criptomoeda é a "Bitcoin" e uma unidade vale, neste momento, cerca de 47 mil euros. "A maior parte dos ativos virtuais está sujeita a uma enorme volatilidade", alerta ainda o supervisor. Portanto, os cursos que ensinam a ganhar dinheiro com criptomoedas são, muito provavelmente, inúteis.
Há uma lista com os sites de apostas devidamente registados em PortugalAs
regras para um site de apostas obter licença para atuar em território nacional são apertadas e há uma entidade do Estado, o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ), que tem "funções de controlo, inspeção e regulação da exploração" deste tipo de atividades. No site do organismo, estão listadas todas as empresas com autorização para exploração do jogo online. São apenas 15, atualmente, e a lei exige que tenham "situação contributiva e tributária regularizada em Portugal", possuam "idoneidade, capacidade técnica, económica e financeira" e apresentem um projeto com as melhores práticas em termos de arquitetura de software e tecnologia nos termos da lei. Se for aliciado, vá ao site da SRIJ e verifique se a empresa tem a devida licença.