Prefere ficar em casa a assistir a programas de televisão do que sair com amigos, é fanática do F. C. Porto, tem um processo de um milhão de euros à perna. Desmonta como ninguém quem se expõe publicamente pelas piores razões.
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“Estamos todos a perder tempo útil.” Assim, desconcertante como quase sempre, Joana Marques comentou a ida a tribunal como ré num processo movido pelos irmãos Nelson e Sérgio Rosado, a dupla musical Anjos.
Em causa, um vídeo publicado nas redes sociais em que a performance de ambos do hino de Portugal antes do início de uma prova motorizada no Autódromo do Algarve, em Portimão, causou brado pela pouco ortodoxa interpretação. Um milhão de euros é a indemnização reclamada. “Fui convidada e cá estou. Venho na tentativa de descobrir as coisas graves que se passaram. Tenho muita coisa para dizer”, garantiu a humorista, pouco antes de entrar pela primeira vez na sala de audiências, na semana passada.
“A Joana não se lembrou daquilo, ela limitou-se a fazer uma brincadeira”, defendeu Ricardo Araújo Pereira, no podcast “Assim Vamos Ter de Falar de Outra Maneira”, ele que a tem na equipa de “Isto é Gozar Com Quem Trabalha”, da SIC, desde a primeira hora. O apresentador João Manzarra, também a um podcast, o “A Beleza das Pequenas Coisas”, disse que “se os Anjos receberem um milhão de euros da Joana Marques abre-se um precedente perigoso e cria-se uma sociedade de maior medo”.
Não foi a primeira vez que a humorista gerou inimizades e críticas devido ao tom com que pauta o espaço “Extremamente Desagradável”, prato forte de “As Três da Manhã”, também com Ana Galvão e Inês Lopes Gonçalves, o programa matinal de maior sucesso da Renascença desde o popular “Despertar”, apresentado por António Sala e Olga Cardoso entre 1982 e 2000. Em pouco mais de 15 minutos, em média, ajuda a desmontar personalidades e anónimos que se expõem ao ridículo pelo que dizem e/ou fazem. A brincadeira com os Anjos, desta feita no Instagram, foi a única que terminou na Justiça.
Filha do historiador João Pedro Marques, um dos maiores especialistas nacionais em História de África, Joana Marques tem um irmão mais velho, Vasco, filósofo e crítico de cinema. E uma avó centenária, Maria Estela, de quem fala com orgulho e a quem considera “figura inspiradora”. É casada com Daniel Leitão, também da Rádio Renascença, que conheceu nos bastidores da Produções Fictícias, e com quem apresentou no Canal Q, da mesma produtora, o programa de vídeos “Altos e Baixos”, feliz alusão ao contraste de altura de ambos – 1,98 metros e 1,53 metros – e que lhe valeu os primeiros processos.
A estreia romântica com Daniel foi num restaurante indiano. “Estive o tempo todo a transpirar e ainda hoje ele diz que me deu imensos calores. Mentira, foi mesmo só o caril”, descreveu Joana à SIC. O casal tem dois filhos, Xavier (8 anos) e Nicolau (4), que Joana Marques procura preservar ao máximo dos olhares do público. No entanto, conta situações por eles protagonizados em “As Três da Manhã”, qual memória futura em que lhes protege a privacidade sem esconder a realidade.
Prefere, diz a própria, ficar em casa a consumir televisão do que sair para jantar com os amigos. “Sou uma pessoa que acorda às seis da manhã e está numa vida muito acética”, disse numa entrevista ao “Expresso”. Hábitos que lhe vêm dos tempos de infância, quando colecionava horas sentada no sofá de casa dos pais a olhar para o ecrã, numa altura em que despontavam as estações privadas que colocaram ponto final ao longo monopólio da RTP.
“Nasci em Lisboa, em 1986. Seis anos depois descobri o meu passatempo preferido: juntar letras para formar palavras que, por sua vez, formassem frases. E a partir daí nunca mais parei”, assim se autobiografou.
Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, nunca chegou a exercer jornalismo. Começou por ser guionista, passou para a rádio, fixou-se na Antena 3, onde começou com o “Extremamente Desagradável”, transferiu-se em 2019 para a Renascença. Escreveu livros, fez espetáculos a solo, ganhou nome e projeção num país em que o humor no feminino tinha falta de nomes grandes. “Não consigo dizer que fazem falta mais mulheres no humor. Fazem falta pessoas engraçadas, é igual se é homem ou mulher”, disse na mesma entrevista ao “Expresso”, na qual também garantiu não ter nada contra pessoas em geral.
“Não tenho assim muita gente que me cause urticária”, garantiu sem hesitação de maior.
Adepta ferrenha do F. C. Porto, que escolheu por ser do contra na escola, onde a maioria dos colegas era do Benfica ou do Sporting, apresentou galas do clube, nas quais chegou a brincar com Sérgio Conceição, então treinador dos azuis e brancos, lembrando-lhe looks antigos dos tempos de jogador em que surgia frente às câmaras de televisão na década de 1990.
Uma forma de dizer (mais uma) que não há nada que não possa ser sujeito a uma análise humorística. Assim a pessoa em causa se tenha sujeitado publicamente.
Joana Marques
Cargo Humorista
Nascimento 03/01/1986 (39 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Lisboa)