Animou festas populares de aldeia, fez-se jovem autarca em Baião, foi secretário de Estado e ministro. Homem de família, é oficialmente o sucessor de Pedro Nuno Santos.
Corpo do artigo
Quando Pedro Nuno Santos anunciou a demissão de secretário-geral do PS, na noite da pesada derrota socialista de 18 de maio – 22,8% e 58 deputados eleitos, terceiro pior resultado eleitoral de sempre do partido em legislativas, apenas acima de 1985 (20,7%) e 1987 (22,4%), e a primeira vez que não é líder da Oposição quando não é Governo –, não foi preciso esperar muito para se conhecer o seu sucessor. Menos de 24 horas depois, José Luís Carneiro confirmou que avançava e nos dias seguintes percebeu-se que mais ninguém lhe seguiria os passos, garantindo que as diretas realizadas entre sexta-feira e ontem seriam um passeio no parque.
Antes ainda de ser confirmado líder do PS, José Luís Carneiro falou e atuou como tal. Chamou a si o protagonismo e levantou a voz durante a discussão no Parlamento das linhas de atuação do Governo para a próxima legislatura. “O senhor primeiro-ministro não entrou com o pé direito. Extrair propostas dos outros partidos e colocá-las no seu programa sem uma única palavra com a Oposição não é diálogo, é plágio”, acusou.
Licenciado em Relações Internacionais, mestre em Estudos Africanos e doutorando em Ciência Política e Administração, deu aulas em instituições privadas e públicas de Ensino Superior sempre a par da intensa vida política. Foi assessor do gabinete do secretário de Estado Adjunto da Administração Interna, Carlos Zorrinho, entre 1999 e 2000, era Fernando Gomes ministro da pasta, chefiou o gabinete de Francisco Assis quando este liderava o grupo parlamentar do PS, entre 2000 e 2002.
Deputado pela primeira vez em 2005, aquando da primeira maioria absoluta do PS pela mão de José Sócrates, nesse mesmo ano foi eleito presidente da Câmara Municipal de Baião, roubando-a das mãos do PSD e logo com maioria absoluta (50,8%). Tornou-se num dos autarcas mais jovens do país, com apenas 34 anos, reelegendo-se com facilidade em 2017 (66,8%) e 2013 (71,4%).
A política local não lhe era novidade. Mais novo ainda, com 26 anos, fora vereador sem pelouro, também em Baião. Destacou-se por uma política de proximidade e por ter transformado aquele que era considerado o concelho mais atrasado do distrito do Porto num território de oportunidades. “Retenho a imagem de um jovem recém-licenciado a discursar em cima de uma camioneta numa praça de Baião. Fiquei logo com a melhor das impressões, ali estava um jovem inteligente, corajoso, culto e dotado de elevadas capacidades oratórias”, lembrou Francisco Assis, destacado militante do PS, ao JN. “A vida, na sua riqueza e imponderabilidade, pregou algumas partidas ao nosso relacionamento político, mas nunca levou ao enfraquecimento da nossa amizade”, sublinhou. Uma dessas partidas aconteceu quando José Luís Carneiro, em 2011, não apoiou Assis na corrida a secretário-geral do PS, preferindo António José Seguro. O mesmo Seguro a quem ainda não garantiu oficialmente o respaldo para as presidenciais do início do próximo ano. “Estamos no momento em que temos de voltar a fazer do PS a maior força política no país. E não há melhor momento do que o momento das eleições autárquicas”, prefere priorizar Carneiro.
Durante a juventude, a par com um percurso tido como exemplar, era visto com frequência nas festas da terra natal e das freguesias vizinhas. Ainda hoje há quem o recorde a tocar acordeão e animar as hostes populares.
Casado com Maria Goreti, ex-técnica superior do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto que amiúde o acompanha em eventos públicos, tem dois filhos, Francisco e Carolina, e partilha com frequência orgulhosas fotos de família nas redes sociais.
“Não nasceu para ser ensinado e essa é uma das suas grandes vantagens”, definiu Augusto Santos Silva, o então ministro dos Negócios Estrangeiros, responsável pela primeira chamada de José Luís Carneiro ao Governo, citado pela CNN. Tornou-se próximo de António Costa, primeiro-ministro que o elevou a ministro da Administração Interna e que o fez secretário-geral adjunto do PS.
A par da política e da docência universitária, José Luís Carneiro lançou cinco livros, um deles com prefácio de Mário Soares. Agora, é a vez de o rapaz do acordeão que animava as aldeias de Baião pegar na batuta e conduzir a liderança do PS. À segunda foi de vez, depois de ter perdido as diretas de 2023 para Pedro Nuno Santos (37,7% para 60,9%), o homem que não conseguiu derrotar, mas a quem acabou por suceder.