Mais toque, elogios e curiosidade, menos críticas e pressão para uma melhor vida sexual em 2026

Dois sexólogos revelam como reinventar o amor no meio do quotidiano exigente, da rotina, do stress e do cansaço
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A transformação de um amor e de uma relação não começa nos lençóis. Passsa por eles, claro, mas as melhorias só acontecem se o casal trabalhar na sua história e no seu desejo muito antes desse momento. Os sexólogos Isabel Henriques e Fernando Mesquita revelam caminhos para uma sexualidade mais viva e preenchida para 2026.
Refundar um romance não é fácil, mas é, felizmente, possível. "As relações saudáveis não são as que não têm problemas, mas as que se permitem evoluir antes de ficarem presas aos mesmos vícios de sempre", analisa o psicólogo clínico e sexólogo Fernando Mesquita. A homóloga Isabel Henriques vinca que, "no plano sexual, evitar a repetição automática é fundamental". A especialista lembra, na antecipação de 2026 e de traçar novos objetivos, ser prioritário "variar padrões, explorar novas formas de intimidade e comunicar de forma clara sobre desejos, o que previne frustração e mantém a relação viva".
No arranque de um novo ano, é comum que "muitos casais comecem a refletir sobre hábitos, rotinas e prioridades", sabendo-se que, atualmente, "há uma consciência crescente sobre a importância de cuidar da saúde física e emocional, e, progressivamente, também da sexualidade", refere a terapeuta. Uma dimensão íntima que não está isolada e que "está profundamente ligada ao equilíbrio emocional, à autoestima e à qualidade das relações".
Contudo, como reinventar o amor no meio da rotina, do quotidiano exigente, do stress e do cansaço? "Do ponto de vista da sexologia clínica, melhorar a vida sexual não se resume a 'fazer mais' ou 'experimentar coisas novas', o foco deve estar na qualidade da relação emocional e da comunicação, dois pilares fundamentais do desejo e da satisfação sexual", recomenda Henriques. De um outro ponto de vista, Mesquita sintetiza: "Ao contrário do que muitas pessoas pensam, melhorar a vida sexual não começa na cama", mas antes "na forma como o casal vive a intimidade no dia-a-dia."
Casais que conversam sobre desejos
têm "maior satisfação sexual e emocional"
Indo ao concreto, a sexóloga sugere que se fale abertamente sobre sexo: "Muitos casais comunicam sobre trabalho, filhos ou contas, mas evitam falar sobre desejos, fantasias ou limites. Criar espaço para estas conversas, de forma regular e sem julgamentos, fortalece a confiança e aumenta a proximidade. Na prática clínica, casais que mantêm este diálogo tendem a relatar maior satisfação sexual e emocional", avisa.
Sexóloga e psicóloga clínica Isabel Henrqieues [Foto: DR]
Mas como? Fernando Mesquita diz que é tempo de "marcar momentos a dois, sem filhos, sem tarefas e sem distrações digitais". O psicólogo clínico e sexólogo fala na desconstrução da ideia de que "o toque tem de levar a sexo e o sexo tem de culminar num desempenho específico". Pede-se, então, "momentos para recuperar o toque como espaço de exploração, curiosidade e prazer, sem pressões e sem a expectativas de que o corpo deve reagir desta ou daquela forma".
"Quando o sexo é visto como obrigação ou teste de performance, aumenta a ansiedade e diminui o prazer", acrescenta Isabel Henriques. O outro lado desta realidade passa, então, pelo "carinho, brincadeira e presença" porque "ajudam o desejo a surgir naturalmente e reforçam a ligação emocional".
Falar abertamente sobre vontades e prazer abrirá novas portas, afinal, não será de estranhar que "aquilo que excitava há dez ou 20 anos pode já não fazer sentido hoje", aponta o psicólogo clínico. "O desejo sexual não é linear", confirma a sexóloga. E se "varia ao longo da vida, com ciclos pessoais e do casal", ele é também "influenciado por stress, saúde, sono ou rotina". "Aceitar estas flutuações ajuda a reduzir a ansiedade e a evitar que períodos de menor libido se transformem em problemas relacionais", alerta Isabel Henriques.
Urge "cuidar da intimidade fora do quarto" com "gestos simples no dia a dia, elogios, atenção, partilha de momentos juntos" porque, "quanto mais os parceiros se sentem valorizados e ouvidos, mais a sexualidade se torna uma consequência natural da relação e não apenas uma meta a cumprir".
Adeus, "padrões automáticos".
Olá, "escolhas conscientes"!
Cuidar do futuro é também rever o presente e o passado olhando para o que já não basta ou serve. É tempo de dizer, como refere Isabel Henriques, adeus "aos padrões automáticos". Ao "identificar comportamentos repetitivos e nomeá-los, tal ajuda a olhar para a relação com mais consciência e menos frustração", sublinha a psicóloga clínica.
O caminho, acrescenta, passa por "substituir hábitos por escolhas conscientes". "Uma maior consciencialização de como reagir em certos contextos de tensão, ouvir o parceiro sem se defender, incluir novas formas de estimular a rotina sexual e de intimidade são passos essenciais", recomenda. E reitera: "Pequenas mudanças consistentes transformam a dinâmica do casal."
Menos crítica e mais elogio, pede Fernando Mesquita. "Em vez de apontar o que o outro faz mal, tente compreender o que poderá estar por trás desse comportamento", insiste, sublinhando que uma mudança pode não exigir "grandes viagens ou mudanças radicais", mas às vezes um simples "alterar de horários, trocar de papéis, experimentar pequenas novidades no dia-a-dia".
Sexólogo e psicólogo clínico Fernando Mesquista [Foto: DR]
"O objetivo não é voltar aos tempos de início da relação, mas criar algo novo, ajustado às necessidades de ambos, focado no cuidado mútuo, curiosidade e presença", sublinha Isabel Henriques. "Muitos casais repetem padrões problemáticos, como evitar conflitos, acumular ressentimentos, cair na rotina sexual ou entrar em discussões circulares. Estes "vícios" não são sinais de falha, mas estratégias automáticas de proteção emocional", pelo que é "preciso quebrá-los", conclui a psicóloga clínica.

