A vida como ela é
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Na oficina de bricolage do meu pai, onde se entretinha nos tempos livres e mais tarde na reforma, quando não estava a ler, de lápis afiado para notas e emendas e a ouvir música clássica, pairava uma frase desenhada numa folha A4 onde se lia: “Aqui não se aceitam conselhos de quem saiba mais, mas de quem tenha feito melhor”. Tão sábia quanto simples, resistiu ao tempo graças à proteção de uma singela mica que a salvou da humidade e poupou inúmeros comentários de treinador de bancada a quem se aproximasse.
Depois de nove horas de apagão fui, como muitos portugueses, acompanhando as notícias pela rádio e pela Internet, até esta desaparecer por completo. O apagão deu-se às 11.33 horas, ao meio-dia o ministro da Presidência falou ao país. O primeiro-ministro falou às 15 horas. Durante a tarde, a REN fez uma declaração, a Proteção Civil enviou SMS à população, que não chegou a todos porque as redes estavam em baixo. Os jornalistas que estavam em São Bento foram recebendo informação até ao início da noite. Quando Luís Montenegro falou de novo ao país, apelando à serenidade e explicando o trabalho de articulação a nível nacional e internacional para a gestão da crise e a efetivação de todos os meios acionados para que não faltasse energia nos hospitais, o território já recuperara, quase por completo, a energia. Perante uma crise energética sem precedentes, o Governo atuou com competência e serenidade. Lisboa ficou caótica, mas o espírito de entreajuda reinou entre os cidadãos, como Carlos Moedas reforçou em entrevistas e nas suas páginas das redes sociais. Foi o caos, mas não houve motins, e os planos de contingência funcionaram. O Governo esteve bem, ponto. Não vale a pena argumentar em contrário, porque não há argumentos, e os que existem são falsos ou falaciosos. Luís Montenegro revelou, mais uma vez, sentido de Estado, algo que falta à sua concorrência direta. Temos um PM que não falha nas gravatas, nas palavras e nas ações. Mantém a serenidade, que tem sido um dos seus trunfos mais credíveis, conquistada a pulso, desde o primeiro dia do seu mandato, que tantos vaticinaram ao fracasso em poucos meses. Onze meses parecem muito, mas foi afinal pouco tempo para tantas medidas que melhoraram a vida dos portugueses, às mãos de um Executivo que encontrou o país de pernas para o ar na saúde, na educação e na habitação. É um trabalho hercúleo de uma equipa unida e coesa, sempre a correr contra o tempo, entre duas oposições que mudam de opinião como cata-ventos, e com a comunicação social de unhas afiadas, sempre pronta a alimentar polémicas, eivada de narrativas pouco objetivas, contaminada de comentadores que ganharam terreno à informação.
Nunca fui filiada em nenhum partido e como independente não tenho qualquer problema em reconhecer onde está a competência e onde não está. Antes do dia 28 de abril, o Governo já tinha dado muitas provas: aumento de pensões, incentivos fiscais para os jovens, descida do IRS, recuperação da ação social, valorização de carreiras na Função Pública, atribuição de subsídios às forças de segurança, acordo de concertação social com os sindicatos, entre outras. Ainda há muito por fazer? Certamente, sobretudo na saúde e na administração interna, as pastas mais espinhosas e complexas. O facto é que na gestão da Hora E, o Governo esteve à altura, e só não vê quem não quer.