O palco da comédia é delas
Nunca como agora houve tantas mulheres a subirem sozinhas aos grandes palcos para fazerem comédia. O público, essencialmente feminino, tem respondido a preceito: salas a rebentar pelas costuras, bilhetes que voam no espaço de minutos, uma loucura. A explicação está talvez numa certa necessidade de ver "mulheres a falar para mulheres". Sendo que as redes sociais também ajudam a explicar o fenómeno.
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Num Coliseu dos Recreios que já suspira por nova enchente, é hora de limar arestas. No palco, há um carrossel gigante, harmoniosamente iluminado, lá dentro pedaços da vida caseira de uma qualquer mãe, justapostos sem particular critério. Um sofá, uma estante com livros, uma máquina de lavar a roupa, um estendal, um berço, um cavalinho infantil, peluches vários. São sete da tarde de mais uma segunda-feira morna de novembro em Lisboa, dali a duas horas e meia a sala há de estar delirante e a abarrotar, por agora há apenas um vazio imponente e sereno, como se quer num derradeiro ensaio. No palco, Mariana Cabral - a Bumba na Fofinha que a Internet consagrou - revê o espetáculo cena a cena e, a cada passo, dá indicações aos operadores de câmara responsáveis pela transmissão do evento nos ecrãs que ladeiam o palco. Está ainda de calças de ganga, top preto, cabelo preso sem grande aprumo, dá indicações constantes: sobre a melhor câmara para cada momento, sobre o plano ideal para captar um dado movimento, sobre o jogo de luzes perfeito para carregar no drama ou exaltar um bit particularmente vibrante. Poder-se-ia pensar que ao fim de quase 30 espetáculos a rebentar pelas costuras, as afinações estavam mais que feitas. Mas, com Mariana, há sempre qualquer coisa mais que pode ser melhorada. O que talvez tenha que ver com a "responsabilidade absurda" que sente de "fazer valer o tempo e o dinheiro que as pessoas investem no bilhete", conforme nos confessará mais à frente.

