Nuno Brito Jorge, CEO da Goparity, coloca as pessoas no centro do sistema financeiro, impulsionando negócios que mudam vidas e não fazem mal ao Planeta.
Corpo do artigo
Nuno Brito Jorge, o cofundador e CEO da plataforma de financiamento sustentável Goparity, quer dar liberdade de escolha a quem pretende investir em negócios sustentáveis. Quatro centenas de projetos e 47 milhões de euros de investimento depois, acumula histórias que mudaram vidas em 19 países.
Nascido no Porto, Nuno deu seguimento à paixão pela Natureza formando-se em Engenharia do Ambiente na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica. Mais tarde, já ciente de que “o dinheiro faz o Mundo girar e, portanto, temos de ser muito responsáveis e escolher os critérios com que o aplicamos”, fez um Master em Gestão de Projetos em Barcelona.
Antes de cofundar a Goparity, porém, acumulou muitas experiências profissionais distintas. Uma das primeiras atividades foi no Parlamento Europeu, onde percebeu “a necessidade de fazer trabalho no terreno, a representação das pessoas e o papel dos cidadãos para que as coisas funcionem bem do ponto de vista do impacto ambiental e social”.
A isto somou uma experiência de voluntariado na América do Sul, que incluiu ajudar uma ONG no Equador a transformar um antigo aterro num parque urbano. De regresso à Europa, trabalhou, por exemplo, numa consultora de financiamentos europeus para a inovação e na EDP, acompanhando os impactos ambientais de projetos hídricos.
As sementes que as experiências foram plantando germinaram e, em 2013, criou a empresa Boa Energia, que se tornou a primeira a vender “kits de energia solar Do It Yourself”. Mais tarde cofundou a Cooperativa de Energias Renováveis Coopérnico.
Em 2017, com a publicação do regulamento nacional para crowdfunding e Crowdlending, criou a Goparity, uma plataforma de empréstimos que permite que qualquer pessoa ou empresa empreste dinheiro a projetos à sua escolha, que contribuem para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Nuno queria “colocar as pessoas no centro dos sistemas, trazer tangibilidade, liberdade de escolha e benefício para o cidadão”. Mantinha as preocupações ambientais e tinha cimentado a “certeza de que as pessoas são capazes de fazer coisas boas acontecer quando são envolvidas e o dinheiro pode ser usado para um fim positivo”. Seguia o que espera ser das maiores lições de vida que deixa aos três filhos: pensar pela própria cabeça e fazer aquilo em que acredita. “Podes fazer o que quiseres, desde que não faças mal a ti, aos outros e ao Planeta” são palavras que o marcaram e que lhes tenta transmitir.
Uma “montanha-russa de emoções e dificuldades” mais tarde, a Goparity já financiou 399 projetos em 19 países espalhados pela Europa, África e América. Ajudou a criar quase cinco mil empregos. Conta com mais de 47 milhões de euros investidos por pessoas de 70 nacionalidades. Tem três escritórios, localizados em Portugal, Espanha e Canadá.
A cada ronda de levantamento de capital que fazem, dão à comunidade a possibilidade de investir também, pelo que não é de estranhar terem cerca de dois mil acionistas.
E por trás dos números dos projetos, há “histórias muito bonitas”. Entre elas conta-se a da portuguesa Oceano Fresco. Dedicada à economia do mar, a empresa estava a dar os primeiros passos quando fez uma campanha através da Goparity e, hoje, tem dois barcos próprios, centros de investigação, berçários para bivalves, cultivo em alto-mar.
No Uganda, financiaram uma cooperativa de lacticínios numa zona sem rede elétrica, conseguindo reduzir a dependência de geradores com a instalação de painéis solares e baterias. “Naquela zona rural não havia iluminação publica, mas as centrais estão iluminadas à noite, pelo que aquele local se tornou o ponto de encontro da comunidade local”, revela. Um benefício no qual nunca tinham pensado quando, “ao olhar para os números, ponderávamos onde investir”.
Outra história, novamente em Portugal, onde está a maior parte da equipa da empresa, é a da Academia de Música de Lisboa. “Conseguiram financiar a troca da iluminação por uma mais eficiente, para ajudar a baixar os custos de energia. Os funcionários e alunos ganharam novo ânimo. São ganhos difíceis de quantificar, mas têm impacto direto na vida das pessoas”, assegura Nuno.
No futuro, a intenção é “continuar a expansão internacional e trazer novas formas de investir em sustentabilidade para a plataforma”, diz, sem esconder que gostava que “um dia a empresa acabasse a ser detida pela comunidade que a utiliza”. “Acredito que é possível um modelo de propriedade e governança em que conseguimos ter uma empresa detida pelos seus beneficiários.”
Nuno Brito Jorge
Localização: Barcelona
Profissão: Empresário na área das finanças sustentáveis
Idade: 43 anos