
A receita natalícia escolhido pelo escritor.
"Escolho um prato de bacalhau, uma receita de que gosto muito, simples e muito saborosa. Cozem-se os lombos de bacalhau em água quente, mas sem ferver para não lhes tirar a goma e não ficarmos com aqueles fios teimosos entre os dentes. É como fazer uma infusão. Há que respeitar o peixe. O processo é simples: ferve-se água, desliga-se o lume, mergulham-se os lombos de bacalhau, tapa-se, espera-se vinte a trinta minutos, conforme o tamanho das postas, e retiram-se depois para retirar as lascas. Não se desfia. Queremos as lascas inteiras e os dedos cheios de goma. Cozem-se os ovos. Seis minutos para ficarem, como costumo dizer, ranhosos, mas cada um saberá como gosta dos seus.
O pão deve ser bom, de massa mãe, de preferência alentejano. As fatias deverão ser ensopadas na água da cozedura do bacalhau. Numa frigideira com azeite, colocam-se folhas de louro frescas - ou secas, caso não tenha um loureiro, como eu tenho, a uma distância de vinte passos - e uns dentes de alho descascados e esmagados com uma colher de pau. Não corto, não pico, não uso esmagador. Isso vai fazer com que se sintam pedaços de alho ao mastigar? Sim. É rude? É, graças a Deus. Adiciona-se então o pão, que vamos desfazendo com a mesma colher de pau. Vai-se acrescentando água da cozedura conforme necessitarmos. Não há pressa. Normalmente uso quase toda a água, que vai evaporando, mas sem deixar as migas secar (há quem goste delas mais secas e enroladas, por vezes meio tostadas, mas eu prefiro a consistência de papa). No final, adiciona-se sal e pimenta. Desliga-se o lume. Põem-se as lascas de bacalhau em cima das migas, os ovos fatiados e coentros picados por cima. E jingle bells."
