A rubrica "Partida, Largada, Fugida"
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Mais uma semana, mais um evento histórico para as nossas gerações. Um dia há de haver um humorista de renome a fazer sketches sobre “onde é que estavas no 28 de Abril?”.
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Ao momento em que escrevo, ainda não há nenhuma explicação oficial para o apagão. Há 25 anos foi uma cegonha. Desta vez desconfio de outro tipo de animal, tipo um jumento.
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Claro que muita gente se apressou a culpar, assim genericamente, “os russos”. Às vezes parece que vivemos dentro de um livro do Astérix, daqueles em que diferentes povos se juntam na praça central para andar à porrada e comer javalis.
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O administrador da REN explicou que um blackout semelhante ocorreu no Chile e demorou 24 horas a ser corrigido. Por cá foram umas 12. Fico orgulhosa, num país que normalmente demora meses só a arranjar as escadas rolantes do metro.
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Durante o apagão, Montenegro deu poucas explicações à população. Pareceu aquela vez que disse no Parlamento: “Às vezes, tenho mais que fazer do que estar a responder-lhes”. Calma, D. Clotilde, acenda uma vela e aguarde.
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Este é um dos maiores apagões de sempre na Europa, mas ao mesmo tempo deu-se um fenómeno ainda mais raro: um apagão de Marcelo Rebelo de Sousa. Falar ao país quando o Papa morre é mais importante do que quando a eletricidade falece.
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Deu-se uma corrida aos supermercados, sobretudo água engarrafada e enlatados. Espero que estejam preparados para os riscos de morar num país em que as pessoas andam a tentar digerir sem sobressaltos as 20 latas de feijão-frade que compraram por impulso.
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Quando a luz voltou, houve aplausos e celebrações. Não cantámos que foi o Eder que os coisou, porque não há provas de que o Eder perceba de eletricidade.