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O que podemos fazer para proteger os nossos filhos e netos da onda crescente de misoginia que assola a Humanidade? Vivemos rodeados de misóginos bem-sucedidos que apresentam as suas progenitoras ao mundo, mostrando que o amor materno nunca lhes faltou. É possível que as amem, embora à sua maneira, porque não se ama como se quer, ama-se como se pode. A capacidade de amar está diretamente relacionada com o nível de consciência de cada um. Ainda que as exibam orgulhosamente, se maltratam, negligenciam ou desrespeitam as mulheres em geral, não escapam à categoria de misóginos. Por outro lado, conheço homens que, privados do amor materno quando eram crianças ou adolescentes, veneram e respeitam as irmãs, as amigas e a suas mulheres. A explicação para comportamentos misóginos não se pode correlacionar diretamente com uma mãe terna ou fria, presente ou ausente, motivadora ou castradora. A misoginia é questão complexa e ancestral, infelizmente eterna e desgraçadamente em crescimento.
Desde a antiguidade grega que a palavra não mudou, nem no grafismo, nem no sentido. Em termos gerais, significa ódio às mulheres. Se o amor precisa de provas para se manifestar, a misoginia sempre esteve presente na História da Humanidade. Por quase toda a Europa, durante séculos, a caça às bruxas foi incessante e até ao início do século XX o papel da mulher na sociedade ocidental era ingrato e limitado, um frágil barco de papel navegando a medo em águas turvas, à mercê da vontade masculina. Na virada do novo milénio, as mulheres chegaram a vivenciar uma fase de algum alívio: conquistaram terreno no mercado de trabalho e começaram a respirar alguma independência financeira. Adquiriram voz, lugar e influência nas mais variadas áreas da sociedade, conquistaram direitos que tomaram como adquiridos. Tudo parecia seguir de feição por uma rota em mares nunca navegados. Contudo, foi sol de pouca dura. O que assistimos no presente não é bom nem bonito, e nada indica que vá melhorar. A violência doméstica e a violência no namoro aumentaram nos últimos anos. O assédio sexual e a discriminação no trabalho continuam. Entre os mais jovens, a animosidade fervilha, a frustração apita como o silvo de uma panela de pressão, sentimos no ar que a qualquer momento a tampa vai saltar, e o que nela estiver contido, vai explodir.
Um estudo recente feito nos Estados Unidos revela que 51% dos jovens entre os 18 e os 24 anos nunca convidaram uma rapariga para sair de forma direta. Com a invasão tentacular e letal do terreno íntimo pela Internet, as novas gerações tendem a preferir a satisfação imediata dada pela pornografia ao contacto direto em busca de uma relação romântica. O isolamento leva ao torpor, que leva à frustração, que por sua vez alimenta a raiva. Vivem sob uma enorme pressão, esmagados entre uma redefinição da masculinidade que não conseguem desenhar, sem apoio psicológico ou emocional, refugiando-se em anti-heróis brutos e narcisistas que projetam o sucesso masculino através da objetificação da mulher. Não podemos ignorar a dimensão de tal enormidade, em nome dos nossos filhos e netos.