Quer ser jornalista ou trabalhar em marketing. Mas só depois de arrumar o quimono. Até lá, vai continuar a viver entre a Tomar natal e o resto do Mundo. Desde que haja um tatame para a receber. E um campeonato para conquistar.
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“Call me crazy but I had this vision... European champion” (“Podem chamar-me louca, mas eu tive esta visão... Campeã europeia”). A frase, escrita em inglês na primeira pessoa, serve de legenda a quatro fotografias que Patrícia Sampaio publicou na sua página no Instagram pouco depois de alcançar a mais recente façanha desportiva. Nas imagens, registadas em Podgorica, Montenegro, no sábado, dia 26, a atleta portuguesa festeja a vitória no Campeonato da Europa 2025 de judo -78kg. No tatame, o tapete que é palco de todas as decisões, e no pódio, onde, exibindo a medalha de ouro e com a mão direita colada ao lado esquerdo do peito, ouviu, emocionada, “A Portuguesa”.
Vencer é um verbo que há muito é sinónimo de Patrícia Sampaio nos campeonatos da Europa. Foi assim como júnior (Sófia 2018 e Vantaa 2019) e como sub-23 (Budapeste 2021). Agora, nove meses depois da medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris, a atleta da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, onde começou a praticar judo com sete anos e abraçou definitivamente a modalidade com nove, conquistou o título máximo europeu, arrecadando todos os combates por “ippon” (a pontuação máxima que se pode obter numa luta, frequentemente comparado a um “knockout” em boxe). A renomada alemã Anna-Monta Olek, com diversas conquistas em Grand Slam e Grand Prix, foi a derradeira adversária derrotada. “A Patrícia sempre teve muita vontade de aprender. E é a humildade e a capacidade de treino que a têm levado a tantos sucessos”, conta Marco Morais, selecionador nacional com quem ganha medalhas desde os cadetes. “Conheço-a desde os 15 anos. E foi ainda cadete, num estágio na Alemanha, que confirmei definitivamente as suas potencialidades e percebi que poderia chegar onde felizmente tem chegado.”
Tomar, terra natal de Patrícia, lida tão bem com a sua presença quase diária como com as grandes conquistas da judoca. Basta recordar a festança que se fez a 5 de agosto do ano passado, uma segunda-feira que mais parecia o feriado municipal de 1 de março, quando uma multidão encheu a Praça da República para a felicitar pelo bronze olímpico. E a atleta responde na mesma moeda. Sente-se em casa. Gosta de treinar na Gualdim Pais, nem que, para isso, tenha de recorrer a atletas masculinos como parceiros das sessões de trabalho – não é fácil encontrar atletas femininas no escalão -78kg –, situação compensada nos estágios nacionais e internacionais.
É fácil explicar a relação entre Patrícia e a Gualdim Pais. A Sociedade Filarmónica é muito mais do que um clube de judo. E não é apenas por causa das inúmeras valências que existem na coletividade da rua Manuel de Matos. Patrícia chama-lhe família. Igor Sampaio concorda. Igor, oito anos mais velho, é o único irmão de Patrícia e o seu treinador há uma dúzia de anos. “É bastante difícil conjugar as duas facetas, mas, com maturidade (de ambos), seguimos juntos.” E esses papéis não se confundem. “Está tudo muito bem definido. O treinador está sempre presente, o irmão só está presente fora do judo”, acrescenta o também responsável pela secção de judo da Gualdim Pais, sublinhando os três pilares que ligam a campeã da Europa ao emblema de sempre: “Há a componente afetiva, a confiança que tem no meu trabalho e os apoios, sejam camarários, do clube ou de patrocínios, que, infelizmente, só aparecem depois de haver bons resultados”.
Mas, afinal, qual é o segredo do sucesso de Patrícia Sampaio? Quem a conhece bem, diz que, na verdade, há duas Patrícias. A atleta é agressiva, determinada, não tem receio de assumir a iniciativa do combate. No dia a dia, longe do tatame, é uma mulher doce, sensível, teimosa, um pouco chorona e, agora, muito babada com o sobrinho Manuel, que a 11 de agosto vai completar um ano. Ainda fora dos treinos e dos campeonatos, a judoca também se tem empenhado na carreira escolar. Está a um exame de terminar o curso de Ciências da Comunicação na Universidade Nova – Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa, concretizando, assim, o desejo de ser jornalista ou de trabalhar em marketing. Faz questão de ter um plano B, para quando terminar a carreira e arrumar o quimono.
Até lá, os sonhos desportivos estão longe de terminar. Dentro de menos de dois meses, o Mundial de Budapeste, na Hungria. Em 2028, os Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos Estados Unidos da América. Pelo meio, muito trabalho e uma mão bem cheia de competições e, claro, de visões. Ou de sonhos. Sim, porque, para a nabantina que é feita de ouro maciço, está mais do que visto que os sonhos são visões. E, sobretudo, realidade.
Patrícia Sampaio
Cargo
Judoca
Nascimento
30/06/1999 (25 anos)
Nacionalidade
Portuguesa (Tomar)