Regina Almeida viu do céu o seu corpo de menina afogado no mar. Luísa, numa mesa de operações, observou momentos da sua vida numa grande tela. Duas vezes em poucos meses. Margarida Rebelo Pinto subiu ao teto do quarto e viu-se em dor na cama. Estava a ter um AVC e não sabia. Maya viu uma luz, como nenhuma outra, branca e bela, enquanto se esvaía no corredor de casa. O que é que acontece quando os pulmões não respiram, o coração não bate, o cérebro não funciona? Experiências de quase morte. Tão fascinantes e tão misteriosas.
Corpo do artigo
Regina Almeida era criança, tinha cinco anos, estava na praia com a mãe, em Paço de Arcos, moravam ali perto, do outro lado da rua. Areal pequeno que quase desaparecia com a maré alta, sítio de pouca gente. Era uma manhã de calor, estava a brincar, a tomar banho no mar com um rapaz mais velho, seu conhecido e de quem ali estava. Até que as brincadeiras se tornaram coisa séria. "Ele conseguiu colocar a minha cabeça debaixo de água, mergulhando-a, até não me deixar sair. Deixei de me mexer e o meu corpo andou à deriva", recorda. O rapaz assustou-se e fugiu. Ela, sem forças, sentiu que morria afogada. Na areia, todos entretidos na conversa, conhecidos uns dos outros, ninguém deu por nada, ninguém deu por ela.
"Naquele momento, senti-me a sair do corpo, a perder o peso, a olhar para mim de cima, como se fosse um drone." Sentiu-se puxada para o céu, entrou num túnel de luz, e ficou a pairar. "Foi um processo de desapego do corpo físico e senti uma paz enorme, uma sensação de leveza, de liberdade e de paz que não existe aqui, na vida terrena." Lá em cima, no alto, assistia ao que se passava. Uma senhora entrou no mar, viu o corpo a boiar, e gritou. "Via o burburinho, as pessoas como formigas a gritar, a minha mãe em choque, a irem buscar o meu corpo, a puxá-lo para a areia." Fizeram-lhe massagens cardíacas, deitou imensa água pela boca, acordou. Nesse momento, foi puxada para baixo, regressou ao corpo. Recuperou, não foi necessário ir ao hospital, voltou com a mãe para casa, era hora de almoço. Passaram-se mais de 50 anos desde essa manhã.