Joana Marques está a ser julgada por uma montagem humorística com os Anjos, que levou os músicos a pedir uma indemnização superior a um milhão de euros. Em tribunal, a comediante garantiu que o objetivo foi apenas fazer rir e negou qualquer ligação do vídeo às mensagens de ódio contra os cantores.
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Joana Marques está esta sexta-feira no Palácio da Justiça, em Lisboa, para a quarta sessão do julgamento que a opõe aos irmãos Sérgio e Nelson Rosado, dos Anjos. Em tribunal, a humorista defendeu que o único propósito do vídeo partilhado era fazer rir. "A intenção é igual a tudo o que faço", afirmou. "Às vezes as pessoas riem, outras vezes não. Não estava à espera que uma obra de um minuto publicada há três anos no Instagram atingisse esta dimensão", acrescentou, dirigindo-se à juíza e provocando reações numa sala de audiências cheia.
A comediante revelou ainda ter recebido duas cartas por parte da dupla. "A primeira dizia que o vídeo lesava a honra do Sérgio e do Nelson. Não concordei e aleguei a minha liberdade de expressão", explicou. Segundo Joana Marques, os irmãos pediam, nessa altura, que o vídeo fosse removido e que fosse feito um pedido de desculpas público. "Na segunda carta, disseram que iam avançar para tribunal", acrescentou.
No depoimento, Joana Marques descreveu o seu humor como sendo de "análise", sublinhando que "não agrada a toda a gente". A humorista afastou ainda qualquer responsabilidade pelas mensagens de ódio dirigidas aos irmãos Rosado, garantindo que o vídeo em causa não teve esse efeito nem essa intenção. "Sou empática com o que se passa aqui, como pessoa que recebe comentários de ódio, sei que não é agradável. Lamento que tenham sofrido isso", referiu, dirigindo-se aos irmãos.
A propósito da escolha do vídeo onde os irmãos Rosado interpretam o Hino Nacional, "A Portuguesa", antes da prova de MotoGP no Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão — atuação na qual alegaram ter existido um problema técnico — Joana Marques justificou a sua decisão em tribunal: "O vídeo do Hino Nacional é matéria-prima de humor. Escolhi excertos com um ângulo cómico, os que considerei mais engraçados. Se fosse uma música dos Anjos, não seria tão engraçado".
Em relação à sua profissão, Joana Marques também aproveitou para referir que "não há humor que não vá ofender ninguém". "Prefiro viver num mundo em que o humor ofende muito, porque é um mundo mais livre e mais democrático".
A certa altura, respondendo à advogada dos irmãos Rosado, Joana Marques afirmou: "Tenho responsabilidade sobre as minhas ações, não sobre as reações dos outros. Não as influenciei. Toda a gente sabe que sou humorista, acho estranho insistir que sou influencer, parece-me menos óbvio. Mas não é a pior coisa que me chamaram".
Depoimento de Tatanka
A quarta sessão do julgamento — no qual os Anjos exigem uma indemnização de um milhão e 118 mil euros à humorista por alegados danos patrimoniais, resultantes da perda de contratos e patrocínios — não contou apenas com o depoimento de Joana Marques.
Pedro Taborda, mais conhecido como Tatanka, vocalista da banda The Black Mamba, foi indicado como testemunha pela dupla Anjos. Em tribunal, afirmou que, apesar de poder haver "uma visão deturpada da realidade", qualquer pessoa "com dois dedos de testa percebe que é um vídeo de humor".
O músico abandonou a sala ainda durante a audiência. O depoimento de Joana Marques terminou por volta das 12.30 horas, estando a sessão marcada para retomar às 14 horas, quando terão lugar as alegações finais.