Poucos lugares têm uma expressão tão forte na história contemporânea de Portugal. A vila raiana do concelho de Almeida ainda hoje é o principal ponto de passagem dos emigrantes, como também o foi nas vagas migratórias dos anos 60 e 70 do século passado. Antes ainda, em junho de 1940, quando a Europa vivia o pesadelo das perseguições nazis, foi ali que chegaram milhares de refugiados, na sua maioria judeus, com visto concedido pelo cônsul Aristides de Sousa Mendes. O museu Vilar Formoso - Fronteira da Paz recorda a coragem e a generosidade que permitiram salvar muitas vidas.
Atualmente, a maioria dos emigrantes que vem de férias a Portugal viaja de avião ou automóvel, mas ainda temos na memória as imagens do Sul Expresso, o comboio da saudade. Nos primeiros tempos, os homens partiam sozinhos deixando mulheres e filhos do lado de cá. Só a pouco e pouco foi possível a reunião familiar, no princípio ainda em condições de miséria, como recorda o monumento erguido no município francês de Champigny, na altura o maior bairro de lata de portugueses, mas que hoje também celebra o apoio que receberam e as novas vidas que alcançaram. Conhecidos como trabalhadores e responsáveis, os emigrantes portugueses, na sua maioria, estão bem integrados e representam casos de sucesso, tendo passado de empregados a empregadores com assinalável dimensão.
Durante décadas, a emigração portuguesa foi um fenómeno escondido, uma espécie de manifestação da nossa incapacidade nacional e por isso lhe lançávamos um olhar envergonhado. Se considerarmos a nossa história, sempre fomos um país de emigração e, mesmo que as razões tenham sido sobretudo económicas, os portugueses demonstraram capacidade de superação e resistência perante as dificuldades.
O Observatório da Emigração indica que cerca de 2,3 milhões de portugueses estão no exterior, números a que podemos acrescentar os lusodescendentes, muitos com forte ligação às origens. Importa que essa relação se traduza na participação cívica nos atos eleitorais em Portugal e nos países de acolhimento. A recente lei do recenseamento vai nesse sentido e decerto estreitará o fio que nos une como portugueses. Temos hoje uma nova emigração, mais qualificada e com melhor integração. Os portugueses no Mundo são uma riqueza e cada regresso a casa deve ser celebrado com a esperança de sermos mais do que as abandonadas regiões do interior deixam adivinhar.
* PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
