Quanto mais se escava na polémica das golas inflamáveis pior é o cheiro a esturro. Fica no ar a sensação de que, mais do que a intenção de proteger as populações dos incêndios, a distribuição de kits de autoproteção em quase 2 mil aldeias do país serviu ao Governo para fazer propaganda. Mais grave é que se chega à conclusão que a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) pouco ou nada foi ouvida nesta matéria.
A consulta prévia ao mercado - portanto sem concurso - de fornecimento dos kits passou sempre pela Secretaria de Estado da Proteção Civil e com contornos de favores políticos. Só assim se justifica a demissão de ontem do adjunto do secretário de Estado da Proteção Civil, Francisco Ferreira. Este ato é também uma forma de o Governo tentar estancar a crise política provocada pela irresponsabilidade de quem decidiu que uma gola inflamável seria o equipamento ideal para as populações. De notícia "irresponsável e alarmista" - conforme classificou o ministro da Administração Interna na sexta-feira após a manchete do JN -, passou-se a questionar a forma como são adjudicadas as aquisições. Na verdade, o que aqui aconteceu é uma réplica do que é corrente na vida política portuguesa e não é exclusivo do PS. Infelizmente, notícias de adjudicações à medida entregues a empresas constituídas à pressa são o que mais abunda no Estado central e nas autarquias, independentemente de qual seja o partido que está no poder. "À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta". Um provérbio tantas vezes usado e que se aplica ao secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves. De entre milhares de empresas no país que poderiam produzir (e bem) o kit de autoproteção de incêndios, foram escolhidas sociedades que estão ligadas aos socialistas e, pior ainda, a Arouca, em que o atual governante foi presidente da Câmara durante doze anos e onde mantém uma estreita ligação.
* EDITOR-EXECUTIVO
