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As negociações no âmbito da OMC, Organização Mundial do Comércio, foram sempre marcadas por movimentos de contestação aos acordos que suportaram a globalização, através da livre circulação de bens e serviços. Sobretudo no final da década de noventa ficaram célebres as manifestações gigantescas ocorridas nos locais onde se realizaram cimeiras, sobressaindo os casos de Genebra e Seattle. A OMC rendeu-se à inevitabilidade da globalização, qual guarda-chuva incapaz de parar o vento de um temporal que provocou num referencial temporal de três décadas, 1985-2015, aumento de 15% para 85% de bens produzidos e comercializados à escala mundial.
Não deixa de ser interessante verificar que foram sempre os USA os principais impulsionadores dos acordos comerciais globais, desde logo pela dinamização do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), mecanismo responsável pela gestão e supervisão, de 1948 a 1994, das regras e sistema multilateral de comércio. Como sucessora do GATT, a OMC tenta desde 1995 manter equilíbrios e princípios que assegurem a partilha de benefícios entre todos os estados-membros. Sabemos que são sempre equilíbrios difíceis e instáveis, com focos permanentes de atrito provocados pela defesa de interesses estabelecidos. A chamada "ronda de Doha para o desenvolvimento", iniciada em 2001, continua ainda hoje os seus trabalhos mas com futuro incerto, em especial pelas dificuldades em obter consensos para a manutenção do protecionismo aos setores nacionais.
As exportações de bens e serviços da União Europeia para os Estados Unidos representam quase 20% do total exportado pelos países do espaço europeu. Por outro lado a análise da balança comercial dos USA mostra um deficit de 0,8 triliões de dólares, sendo que os principais destinos de exportação são o Canadá, Reino Unido, México, Japão e China. Quando analisamos o perfil das importações este grupo mantém-se, mas ganha relevo o nível de transações com a EU, em especial com a Alemanha.
A recente e instintiva decisão do presidente Trump em penalizar as importações de aço e alumínio é tudo menos inocente. Ele sabe que o seu grande mercado é, antes de mais, o seu próprio espaço económico. E iniciou uma espécie de pré-campanha sem olhar a consequências. Sendo para levar a sério os ímpetos do senhor, também esperamos uma resposta adequada por parte da EU.
* PROFESSOR CATEDRÁTICO, VICE-REITOR DA UTAD