Corpo do artigo
Os caprinos têm estados associados desde tempos imemoriais às zonas marginais de produção agrícola, sendo muitas vezes capazes de subsistir em situações de extrema adversidade, como são por exemplo as regiões de clima desértico.
É mesmo muito interessante recuperar os escritos de Miranda do Vale, 1949, pioneiro da investigação em produção animal, que quando compara espécies de pequenos ruminantes refere "de todos os mamíferos é talvez o carneiro aquele em que a domesticação exerceu mais profundas modificações. A alegria, inteligência, vivacidade, coragem e prudência, que distinguem o carneiro selvagem, foram pela domesticação transformadas em melancolia, indolência, cobardia e indiferença. Pelo contrário, a cabra, adquirindo com a domesticação o amor pelo homem que a trata, conservou do animal selvagem o gosto pela vida vagabunda, pelas correrias, saltos e lutas. Guardou a insensibilidade à vertigem, preferindo à planície as montanhas, aos lugares seguros as margens dos abismos, onde se conserva correndo e saltando com a maior confiança na sua destreza e agilidade. Da vida selvagem conserva ainda a rustiquez, a temperança, a resistência e a precocidade.
Terá sido o conhecimento aprofundado destas características dos caprinos que terá motivado os responsáveis pelas novas políticas de combate ao flagelo dos incêndios estivais a recorrer, simbolicamente e como uma das primeiras medidas, a estas novas brigadas de sapadores florestais. Mas há ainda um problema a ultrapassar, que se relaciona com o facto de os caprinos serem claramente a espécie de ruminante com maior capacidade de seleção de plantas e das partes mais digestíveis das mesmas. Mesmo quando em pastoreio extensivo com acesso simultâneo a vegetação herbácea, arbustiva e arbórea, os caprinos manifestam uma enorme capacidade seletiva da vegetação disponível, preferindo, ao contrário dos ovinos, as folhas e as extremidades mais tenras dos ramos de arbustos e árvores relativamente à vegetação herbácea.
Mas ao serem energéticas, inquisitivas e até ousadas na escolha da vegetação disponível, só temos todos de acreditar na eficácia desta nova equipa de sapadores florestais. Aguardo ainda com alguma expectativa a posição do PAN nas exigências de proteção a estas novas equipas.
PROF. CATEDRÁTICO, VICE-REITOR DA UTAD