Cheguei a pensar que, tirando eu, a eurodeputada PS Ana Gomes e mais alguns fervorosos crentes na "teoria da conspiração", não existia mais ninguém certo de que aviões da CIA sobrevoavam espaço aéreo nacional e aterravam em aeroportos nacionais. Afinal, somos mais, pois entre os "nossos" encontram-se diplomatas norte-americanos que também sabem disso.
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Porque, a dar crédito à WikiLeaks, eles comunicaram para Washington que agradeciam "a Sócrates ter permitido aos EUA usar a base dos Açores para repatriar detidos de Guantánamo", o que significa que os Negócios Estrangeiros mentiram sempre que juraram não saber de nada. Só agora o MNE avançou com uma "nuance": nunca houve um "pedido formal" dos EUA para "repatriar" os presumíveis terroristas (ah!, deliciosa palavra esta, "repatriar"...), mas apenas "diligências". Eis um bom exemplo da linguagem diplomática, mestra na arte do eufemismo...
Ainda segundo a incómoda WikiLeaks, o Governo português terá exigido "garantias escritas de que os detidos não serão torturados ou sujeitos à pena de morte" ao chegarem ao "repatriamento". A ser verdade, trata-se do mais higiénico lavar de mãos de que há conhecimento desde a ablução manual de Pilatos.
Apesar dos (possíveis) pruridos do Governo em colaborar naquilo que Ana Gomes continua a considerar "violação de todas as regras do Direito Internacional", os aviões circularam e a embaixada está tão agradecida ao ministro Luís Amado que foi ao ponto de dizer a Washington que é "vantajoso continuar a acarinhá-lo muito". "Acarinhá-lo"?! Mais parece uma palavra de ternura de um Daddy (Papá) para com o bem comportado Kid (Filhote)...
