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O folhetim do encerra, não encerra, volta a encerrar e agora é definitivo, de agências da Caixa Geral de Depósitos, tem exposto de forma cruel o que de pior o centralismo doentio pode fazer pela coesão nacional.
Com o argumento enviesado de que embora a Caixa seja 100% pública, agora tem que ter uma gestão de banca privada face às obrigações contraídas junto da Comissão Europeia, das quais resulta a necessidade de redução da rede de balcões, utiliza-se o caso de Almeida para mostrar a força de quem manda. Algures num recanto dourado do "palácio de Ceausescu" construído para sede da Caixa, portuguesa com certeza, decidiu-se que era importante dar um sinal de austeridade, pelo que nada melhor do que ter uma sede de concelho sem agência física.
Devo dizer que nunca apreciei o dito serviço público da Caixa, desde o tempo em me obrigavam a ter conta por ter ingressado nos quadros da Administração Pública. Lembro-me bem das intermináveis filas à porta da agência da Avenida Carvalho Araújo, em Vila Real, que depois repeti no balcão do Palácio da Justiça quando ingressei na Universidade do Porto, em fevereiro de 1985. As guias que tinham que ser pagas pela Caixa, as cadernetas anacrónicas que parece que ainda existem, o levantamento dos vales de reforma por pessoas idosas, tudo aquilo era uma espécie de acréscimo de penitência obrigatória aos servidores e dependentes do serviço público. O problema é que tudo foi construído e organizado durante muitas dezenas de anos, gerando dependências em muitos casos impossíveis de substituir do pé para a mão, em especial em zonas do território nos quais os serviços da Caixa foram impostos como uma espécie de extensão do Estado ao acesso a serviços bancários.
Choca-me profundamente que uma administração não seja capaz de colocar na sua conta de balanço social alguns míseros euros destinados à coesão territorial, decisivos para a nossa consciência como país. Não acredito que depois de termos gastado cerca de 3000 milhões de euros de dinheiro de todos os contribuintes, não haja vontade de pedir a cada português que contribua com meio cêntimo de euro, ou um escudo da moeda antiga, para suportar um custo anual que fosse de 50 mil euros e manter a agência de Almeida aberta. Há programas de animação social que devem custar à Caixa bem mais do que isso. Em vez disso, preferimos a humilhação final das suas gentes, perante o silêncio cúmplice de múltiplas entidades.
* PROFESSOR CATEDRÁTICO DA UNIVERSIDADE DO PORTO