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Ainda na longa ressaca do trauma coletivo provocado pelo impacto económico e social dos incêndios de junho e outubro, em que, para além da perda irreparável de vidas humanas, temos pela frente o apoio às muitas famílias que estão a sofrer com perdas materiais que afetam o seu dia a dia, somos confrontados com as notícias que referem que autarcas, empresários e reitores pedem ao presidente Marcelo patrocínio para novas e melhores políticas públicas para o interior, com mais investimento e melhor aproveitamento dos fundos no âmbito do Portugal 2020. O prestígio e o longo curriculum de José Silva Peneda, coadjuvado por dois credíveis e competentes autarcas, como são Álvaro Amaro e Rui Santos, dão um bom suporte para a vontade e empenho genuínos que se sentem na ação do presidente da República.
Mas a guerra será sempre longa e difícil, até porque o histórico dos últimos é de muitas e sucessivas batalhas perdidas. Praticamente todos os decisores concordam com mais e melhor investimento para o interior, desde que se respeite a condição das áreas geográficas mais beneficiadas nada perderem. E isto não é obviamente possível. Sei bem do que falo e, perdoem alguma imodéstia, com histórico e crédito consolidado. Foi enorme a tristeza com que vi relevantes atores da política regional a apelar e a negociar na sombra alguns trocos com o poder central, que bem falta fizeram e fazem para investir neste interior depauperado de investimento público e privado, mas a que nos cabe a todos nós enquanto sociedade respeitar e apoiar, não nos lembrando dele apenas e só nos momentos de tragédia.
Aprendemos com a biologia a não acreditar nas "lágrimas do crocodilo", até porque elas só ocorrem durante a fase em que devoram as vítimas da sua própria natureza. De nada adiantará por isso clamar e chorar sobre a desgraça acontecida, se não formos firmes e consequentes na mudança que se impõe à forma como tratamos as áreas mais frágeis do território. Daí a esperança renovada na firmeza de caráter deste grupo para que, com a ajuda e a motivação do nosso presidente, consigam de uma vez por todas obrigar o poder político a fazer corresponder em atos, leia-se apoios e investimento, as sucessivas e vagas promessas que já nada nos dizem.
Por isso e por enquanto só nos resta continuar a acreditar!
* PROFESSOR CATEDRÁTICO E VICE-REITOR DA UTAD