Na próxima quinta-feira, assinalam-se 100 dias de Joe Biden na Casa Branca, altura para se fazer um primeiro balanço, ainda que essa linha temporal não permita normalmente grandes concretizações. No caso dos EUA, há sinais significativos, lidos de forma diferente pelos média internacionais.
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Muitas revistas de referência antecipam as suas visões em relação ao que Joe Biden já fez. "L"OBS" designa-o como o "novo Roosevelt", encontrando semelhanças com o seu antecessor que combateu nos anos 30 uma gravíssima crise económica através de um programa de ajuda governamental, de recuperação e crescimento económico, gerador de emprego e motor de grandes reformas. Não será certamente por acaso que Biden levou a fotografia de Franklin Roosevelt para a Sala Oval. Tendo decerto na cabeça a frase emblema de que "é preciso agir, agir agora", Biden anunciou um robusto plano económico, um ambicioso programa de emprego e de reabilitação de infraestruturas tomadas também no seu sentido imaterial e tomou em mãos o processo de vacinação, dando-lhe uma dinâmica inimaginável.
No Reino Unido, a revista "NewStatesman" chama-lhe "o radical improvável". Escreve-se que este homem, cujo papel principal parecia ser o de despejar Donald Trump da Casa Branca, tem ainda muito para fazer. Hoje, Biden fecha uma cimeira de líderes para discutir o clima, antecipando alguns trabalhos da Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, que decorrerá em Glasgow, entre 1 e 12 de novembro e que reunirá representantes de 200 governos com o objetivo de acelerar a ação climática para cumprir o Acordo de Paris. Eis um grande sinal de que os EUA querem entrar pela porta principal na política climática global. E isso é aclamado por muitos, apesar de haver críticas.
Também em território britânico, a conservadora "The Spectator" não faz um balanço eufórico destes 100 dias de Biden, um homem que se considera ter dificuldade em manter-se calado, falando com frequência nos piores momentos. O exemplo dado são declarações suas a propósito da decisão judicial que culpou o ex-polícia Derek Chauvin por três crimes pelo homicídio de George Floyd. Também se criticam as soluções apontadas para a redução das emissões de CO2 até 2030, argumentando-se com os custos que isso comporta.
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Prof. Associada com Agregação da UMinho