Lamento se ofendo alguém, mas vou chamar-lhe parvoíce. A parvoíce do #10yearchallenge, o desafio que esta semana nos massacrou os feeds das redes sociais e que convida as pessoas a colocarem um retrato feito em 2009, ao lado de outro tirado em 2019, é um tratado sobre a ingenuidade e o narcisismo.
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Já aqui escrevi aqui algumas vezes isto: as fotos são memento mori, não servem para conservar a juventude, antes são para nos fazer ver o inexorável destino, ainda que as imagens também nos guardem as memórias, a matéria essencial que nos constrói e suporta.
É ingénuo dar de bandeja a mudança dos nossos rostos, de forma tão precisamente localizada no tempo, a empresas que vivem da tecnologia da personalização, cada vez mais visual.
Sei bem o que é a excitação do protagonismo - quem não conta os likes?- que as redes nos proporcionam. Mas nós somos memória e a nossa cara, as nossas rugas e o caminho nelas refletido são só nossos. Por que razão as pessoas se entregam assim?
*Jornalista