Há alguma coisa de fundamentalmente errada quando o martelo das Finanças, do Estado ou da Autoridade Tributária esmaga sem contemplações cidadãos e pequenas empresas ao mais pequeno deslize ou atraso - a ponto de as envergonhar publicamente por pequenas dívidas -, e se transforma em gelatina inofensiva quando é preciso enfrentar grandes interesses.
Isto é tão normal em Portugal que já nem parece grande coisa declarar isto. O Estado português desdobra-se em esforços para esbulhar uns e desfaz-se em desculpas por perdoar outros. Pode um Estado em estado de pré-falência permanente dispensar tanto dinheiro?
Em Portugal, falhar uns euros é pior do que evadir milhões. Isto é normal? Não, está normalizado na memória coletiva. Há ministros a tentar validar um lapso de 110 milhões, mas eu gostaria também que me explicassem porque se pune por 110 euros. Ou de outra maneira: porque raio é que neste país os tostões de baixa bonança afligem mais as autoridades do que os milhões de alta finança? Ou de outra forma ainda: se dever 110 euros ao Estado, o cidadão tem um problema; se alguém dever 110 milhões, o problema é para o cidadão.
*Jornalista
