O "Jornal de Notícias" completa hoje 126 anos. Não é apenas mais um aniversário. Ele acontece no epicentro de um dos mais tumultuosos momentos vividos pela Comunicação Social em geral e pela Imprensa em particular. Não é uma crise, como tantas outras, apenas nacional. A irreversível mudança de comportamentos de leitura, com a progressiva e acelerada migração para o universo digital, há muito que deixou de ser uma visão futurista.
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O acesso direto do leitor à informação - e à sua difusão sem intermediários - é hoje tão disseminado quanto perigoso. Mas esta é uma prática que está aí e veio seguramente para ficar. Ignorar este novo padrão comportamental é não entender o nosso mundo. Um mundo novo que tanto pode ter de assustador como de apaixonante.
Nesta época em que a ficção tende a confundir-se com a realidade - e a Comunicação Social também é responsável por esta balbúrdia -, a tentação de informar sem mediar é cada vez maior. Assim como os riscos. As novas ferramentas sociais trouxeram, para o bem e tantas vezes para o mal, uma nova relação das pessoas com o que pensam ser a "notícia". E esse novo paradigma é uma inevitabilidade. O principal desafio da Imprensa tradicional é o de saber conviver com este novo ecossistema informativo. E, no meio da sua complexidade, entre teias nem sempre percetíveis, encontrar o seu lugar. Sem ceder ao populismo, sem embarcar em modas conjunturais ou perseguições individuais, em suma, no respeito pelos mais básicos pilares do jornalismo: a ética e a independência. Não é, porém, um caminho fácil.
No JN, não somos imunes a esta nova realidade e aos desafios que ela impõe. Por estes dias em que assinalamos mais um aniversário, alcançaremos também o número de um milhão de seguidores na nossa página no Facebook e seremos o primeiro jornal nacional a atingir esta cifra. Daqui a um ano, no mês de julho, o jornal estará a assinalar as duas décadas da sua edição digital. E o leitor cá estará igualmente para testemunhar outro aniversário da edição em papel, por muito que a morte deste suporte continue a ser anunciada.
Paulo Portas, por exemplo, vaticinou este fim de semana o fim dos jornais em papel. Em matéria de jornalismo, não é a primeira vez que o ex-jornalista e atual vice-primeiro-ministro se engana. Quando dirigiu "O Independente", Portas declarou que só deixaria o jornal quando vendesse mais um exemplar que o rival "Expresso". Não foi uma declaração irrevogável. O jornal de Portas fechou em 1995 sem atingir o objetivo.
No "Notícias", respiramos papel e cada vez mais digital. Diz-nos a nossa história, galgada através de três séculos, que, se vier a existir uma nova plataforma, o JN vai lá estar. Em força. Esse é um ADN consolidado ao longo dos 126 anos de vida do único jornal nacional sediado na Região Norte.
Um caminho de verdade e de independência que foi, é e será o nosso compromisso para com o leitor. Qualquer que seja o suporte onde nos lê.