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Vejo cada vez menos televisão e muito dificilmente farei o caminho de volta. Pelas generalistas portuguesas já nem passo, nem durante o dia, nem durante o serão. Salva-se o esforço da RTP de produzir séries e apresentar algum, pouco, cinema de qualidade.
No cabo, é ainda pior. Repetem-se até à náusea episódios e temporadas. Praticamente todas saídas da fábrica de enlatados de Hollywood, com histórias, protagonistas e caras que se confundem, todas iguais na sua beleza industrial. Eles, de cabelo curto e queixo forte, elas de cabelo comprido e sempre magras para além do que parece possível. Todos iguais, nem demasiados bonitos, nem demasiado talentosos, para não intimidar ninguém. Ligamos a televisão e, seja a que horas for, arriscamos ver uma autópsia. Todos estamos obrigados a ser médicos legistas - é a morte científica, neutra e indiferente, ou a perfeita concretização distópica de Huxley. Os filmes são quase sempre os mesmos e também todos iguais. Ação rançosa, comédia manhosa e drama piroso. De resto, há maus "reality shows" e programas de ciência e interesse duvidosos. Para que quero eu saber quem sairia vencedor de uma luta entre um crocodilo e um hipopótamo?
Não sei para que servem e porque nos servem tantos, 140 (!), canais, a não ser para tentar disfarçar que nos estão a cobrar alto por uma TV de baixo nível.
*JORNALISTA