Embora garantam que não, a verdade é que, entre nós, a História repete-se com frequência. Provavelmente arrastamos problemas a que não pomos cobro, ou, nas confusões da nossa improvisação, nem reparamos nos males que ficaram "para amanhã".
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Em 1872, escrevia Eça de Queiroz: "(...) a pequena burguesia já está mais pobre que o proletariado: que ela, vivendo sob a pressão feroz da carestia de alugueres, do alto preço dos géneros, da agiotagem - não pode todavia fazer greves - e que, por exemplo, um 1.º oficial de secretaria é mais pobre e bem mais proletário do que um operário".
Salvaguardando as diferenças entre o operário indiferenciado e o especializado, a frase adapta-se na perfeição à actualidade. E não é preciso recorrer aos comentadores, para compreender quanto uma classe média depauperada e desvinculada de intervenção cívica activa (numa sociedade em que se sente pagadora de impostos e com a casa às costas para as periferias) é um risco para a estabilidade do Estado Democrático. Porque, tenham paciência os fundamentalistas: o esteio e o dinamismo de democracias socialmente justas, é, hoje, uma classe média sólida.
E talvez não fosse despiciendo os candidatos à presidência do município portuense, desta urbe liberal que constituiu motor e alicerce do projecto constitucional e democrático em Portugal, começarem a assumir que se impõem políticas inovadoras em matéria de habitação, emprego e mobilidade, para que a qualidade de vida, a estabilidade e a atractividade da cidade assentem na reconstrução da classe média (a que chamavam burguesia) que estruturou a sua identidade.
O autor escreve segundo a antiga ortografia