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As conversações entre o Governo grego e o Eurogrupo decorrem há já cinco meses. Um tempo tão longo é normalmente sinal de que as partes têm vontade de chegar a bom termo. As notícias davam conta das dificuldades, mas iam sinalizando uma aproximação. Foi por isso surpreendente o desentendimento a que se chegou. Surpresa ainda maior, o primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, resolveu "virar a mesa" e convocar um referendo para que o povo grego se pronuncie sobre as propostas europeias.
O que está verdadeiramente em causa neste braço de ferro?
O euro impõe regras aos países para garantir a sua solidez, credibilidade e estabilidade. Por isso abdicaram de ter política monetária e cambial próprias, e aceitaram respeitar as regras estabelecidas nos tratados e demais legislação europeia. A entrada e participação no euro implica a aceitação de um quadro de governação económica e financeira que impõe responsabilidades recíprocas: os estados-membros devem conduzir políticas consentâneas com aqueles objetivos e a união deve promover tais políticas e apoiar os seus estados-membros na sua implementação. A união deve dispor também de instrumentos de prevenção, gestão e resolução das crises a que possa estar sujeita. Sob este ponto de vista ambos falharam.
A Grécia fez este casamento com o euro, um cônjuge que ultimamente lhe tem imposto grandes sacrifícios, mas sem melhorias visíveis. Por isso a Grécia exige agora poder ter vida de solteiro, mas sem sair de casa e à custa do cônjuge. O referendo de domingo ditará ou não um pedido de divórcio. A vitória do "sim" poderá levar a um acordo que permita manter a Grécia no euro. Se vencer o "não", a sua saída será iminente. Sem acordo, e com default, a Grécia fica sem financiamento: os credores oficiais deixam de emprestar, o BCE deixará de injetar liquidez nos seus bancos e os mercados não quererão emprestar a um país em bancarrota e que já lhes impôs perdas pesadas. Perante isto, só restará à Grécia financiar-se emitindo a sua própria moeda, isto é, fora do euro. Se tal acontecer, colocar-se-á uma espada de Damocles sobre os outros países do euro: daqui em diante, em situações de crise grave, o cenário de saída passará a ser sempre um cenário no qual os mercados irão apostar e especular.
O Eurogrupo terá que avaliar se os custos desta saída são ou não mais elevados que os de um novo resgate da Grécia. Em minha opinião, acho que sim. Mas a questão não é estritamente financeira, é essencialmente política. Exige, na Grécia, uma administração que funcione e, na Europa, um novo modelo de governação capaz de enfrentar os desafios do desemprego, do baixo crescimento e da dívida demasiado pesada.