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A discussão e votação do Orçamento do Estado para 2016 esteve no centro das notícias nacionais. Neste debate ficou clara a ausência de propostas alternativas do PP e do PSD. A única proposta que têm é a que apresentaram há quase um ano a Bruxelas: manutenção da sobretaxa do IRS, manutenção dos cortes salariais e corte adicional de 600 milhões nas pensões. Compreende-se que, depois de uma campanha em que acenaram com o fim dos sacrifícios, esta não é uma proposta que possam, agora, tirar da gaveta. Daí o vazio e o anunciado silêncio para a apreciação na especialidade. Com a aprovação da proposta de Orçamento na generalidade, Costa teve mais uma vitória, uma vitória tão esperada a ponto de o ainda líder do PP ter estado ausente. Também uma vitória óbvia bem ilustrada pelas imagens de Passos Coelho a abandonar o hemiciclo fugindo às críticas do primeiro-ministro. Esta vitória parlamentar seguiu-se à entretanto obtida na difícil negociação com a Comissão Europeia e o Conselho Europeu. Certamente influenciado pelas jornadas europeias de futebol, recentemente retomadas, diria que Costa está já a ganhar por 2-0.
Mas o "jogo" ainda não acabou. Estamos no intervalo. Falta a segunda parte, a execução. A mais difícil e exigente. Os adversários foram surpreendidos com a forma como o jogo se tem desenrolado e com o resultado já alcançado. Estão irritados e agressivos. Têm acicatado os seus adeptos e simpatizantes a serem duros nas críticas à equipa governativa e não escondem o apoio que dão às equipas estrangeiras que têm jogado com a equipa nacional. Por outro lado, a estratégia de jogo adotada por Costa não agrada à liga europeia, mais habituada ao jogo convencional, ortodoxo. Esta liga irá certamente querer levantar dificuldades e será tanto mais tentada a fazê-lo quanto mais pressentir que o jogo da equipa portuguesa não produz, ou tarda a produzir, os resultados desejados. Ainda por cima, o terreno está pesado, marcado pelo jogo duro das jogadas anteriores. O céu está carregado de nuvens e, aqui e acolá, ouvem-se alguns trovões distantes. Há o risco de poder haver um temporal capaz de prejudicar este segundo tempo, comprometendo o resultado final.
Os números da execução de janeiro, bem como a apreciação positiva divulgada pela agência de rating Moody"s, são um bom alento para o arranque desta segunda parte. Mas, não haja ilusões, não será fácil e a "equipa" e o seu "capitão" devem estar cientes disso. Vai ser necessário grande disciplina e rigor tático, controlo de bola, criatividade, coesão da equipa e capacidade de sofrimento. Convirá ter umas jogadas extra no banco, de reserva, caso haja contratempos. Se for assim, Costa poderá fazer um "hat-trick", assegurar uma vitória convincente e fazer com que Portugal suba nos rankings internacionais.