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Talvez 2016 venha a tornar-se no ano em que se recuperará o decoro na relação entre o Estado e o cidadão, depois dos anos de devastação ideológica que não só não acabaram com um Estado monstruoso, como o transformaram num monstro que explorou os indefesos e promoveu a desigualdade. Desconfio, porém, que António Costa não será o homem que vai começar o caminho que precisamos trilhar, que é o da metamorfose. O primeiro-ministro é mais homem para a lenta evolução, para o progresso vagaroso e sem riscos, sempre tão calmo e impenetrável como qualquer negociador se orgulha de ser. Certamente que haverá boas iniciativas e algumas boas políticas, o que até é uma variação agradável em relação aos anos de chumbo. Não nos podemos, no entanto, deixar iludir. É pouco, e fácil, ser apenas melhor do que o muito mau. Precisamos, desesperadamente, de mais, muito mais, mas confesso-me sem grande esperança. Daqui a um ano, e faço esta aposta com razoável confiança, vamos ter a lamentar novos escândalos e as mesmas queixas sobre a Justiça, a saúde, a economia, o défice, os impostos, os excessos do Estado ou a incapacidade política para melhorar o país. Como ontem e hoje, amanhã continuaremos mais estagnados do que nunca e à rasca como sempre.
*Jornalista