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O país. A coabitação entre a recuperação do nível de vida e a catástrofe dos incêndios marcaram um ano muito contraditório, quase bipolar. De forma chocante, voltámos a constatar que a dignidade de um Estado não se mede tanto pela riqueza que distribui mas mais pela incapacidade para proteger os cidadãos e para defender o seu património. Tratemos de incêndios florestais, da seca extrema ou da proliferação da legionela, a sensação de falhanço é grande e é dura. Muito bem que ganhámos a Eurovisão, recebemos o Papa em Fátima, elegemos Centeno para o Eurogrupo e estamos cada vez mais na moda, com o turismo mais de 20%. Tudo isso é ótimo. Tudo isso é mérito dos portugueses. Mas o estado do nosso Estado nem é bom nem se recomenda.
A economia. Este terá sido o melhor ano desde o início do século - PIB a crescer acima dos 2,5%, défice abaixo dos 1,3% e desemprego pouco acima dos 8%. São resultados inéditos com governos socialistas. Apesar de todos os sinais errados que este Governo dá - o aumento da dívida pública, o bodo a algumas corporações, reversões e descongelamentos excessivos para sossegar Bloco e PC e uma carga fiscal perfeitamente arrepiante, que teima em não diminuir. O mérito do lado bom de 2017 é muito dos trabalhadores, das empresas, dos empresários e também, claro, dos contribuintes.
O Mundo. O Mundo está perigoso, costumava escrever nas suas crónicas, há anos, Vasco Pulido Valente. A verdade é que está sempre e, aparentemente, cada vez mais. Veja-se o princípio de uma nova era de desagregação da Europa, com o Brexit, a agitação na Catalunha e as derivas húngara e polaca. Por aqui, resta-nos a esperança da energia de Macron, em França, e que Merkl consiga rapidamente formar Governo. Dos Estados Unidos, é bom recordar que Trump só tomou posse a 20 de janeiro, há menos de um ano. Tempo suficiente para destabilizar por completo toda a política mundial, do Médio Oriente ao Pacífico, e com consequências imprevisíveis. Sobra-lhe o "make America great" e - mais tweet, menos tweet -, aí as coisas não correm mal.
O Porto. A eleição e a maioria de Rui Moreira marcaram um dos melhores anos na história recente da cidade e um ciclo de afirmação internacional, de crescimento económico, de recuperação social e de agitação cultural. O Porto não é uma moda, é um modo de vida. Cada vez mais cosmopolita e mais aberto. E com uma identidade cada vez mais afirmada. Até a TAP, eventualmente a custo, percebeu que a famosa ponte aérea com Lisboa tem dois sentidos e vai retomar algumas ligações internacionais a partir do Porto.
EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO