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Penso que passou um pouco despercebido o filme "L"Avenir", da francesa Mia Hansen Love, mas para mim é um dos filmes do ano, assim como o "I, Daniel Blake", de Ken Loach, dois exercícios notáveis sobre a perda do conforto. Que nos dizem da inquietação das expectativas legítimas que afinal não se cumprem. Ambos são sobre direitos, sociais e familiares, e sobre o terrível caminho que é necessário percorrer até à aceitação de uma mudança improvável. Não é fácil o apaziguamento, nem sequer sempre recomendável, especialmente depois da injustiça. No filme de Ken Loach, o protagonista pagou o último preço porque se recusou - e bem - a aceitar a mudança que um sistema cego e desumanizado lhe impunha. No "L"Avenir", a protagonista, já em idade de difícil recomeço, perdeu de repente o futuro familiar que julgava imperturbável, e entrou num digno processo de dissolução até que encontrou a boa resignação.
2016 foi um ano terrível para o Mundo e 2017 será provavelmente mais difícil. Que todos saibamos sempre quando não aceitar a imperfeição, como disse a Sophia, ainda que isso nos angustie; e quando preferir a serenidade, para que a angústia não nos vá matando em vão.
*Jornalista