Em Portugal, a grande surpresa do ano foi a derrota eleitoral do Partido Socialista. Poucas semanas passaram desde as eleições e ainda não é claro o Governo que iremos ter no novo ano. Mesmo derrotado, António Costa voltou a prometer constituir uma maioria parlamentar de apoio ao seu Governo.
Corpo do artigo
A novidade são os contactos com o novo partido de extrema-direita que, com dois mandatos parlamentares, pode ser decisivo para obter essa maioria. António Costa diz que só ele conseguirá federar as diferentes pequenas formações partidárias (que vão da extrema-esquerda à extrema-direita) e que nenhum partido eleito para o Parlamento deve ser excluído do arco da governação. Apesar de algumas críticas, são vários os comentadores que elogiam a habilidade de António Costa e o que consideram ser a sua capacidade de trazer para o campo da responsabilidade política forças radicais.
Multiplicam-se as tentativas de explicar a derrota do Partido Socialista. Há quem invoque a crescente contradição entre o discurso do sucesso económico e a incapacidade de corresponder às expectativas e reivindicações que este gerou. Outros recordam a insegurança crescente sentida pelos cidadãos face à incapacidade do Estado em cumprir com os seus deveres básicos. Os sucessivos novos programas de investimento estratégico anunciados pelo Governo não convenceram os portugueses, perante a realidade de uma política governativa que promoveu o maior desinvestimento público em décadas. Há quem diga que a desaceleração da economia e a continuação da perda de poder de compra foi o mais decisivo: os portugueses começaram a questionar até que ponto o país não tinha aproveitado o impulso resultante do esforço do ajustamento e do contexto externo favorável.
Essa perceção, e a gestão desastrosa de António Costa quando o Estado falhou, alimentou uma suspeita: até que ponto António Costa tem as capacidades de liderança necessárias para promover a transformação de fundo que o país necessita e, nesta fase, lidar com os riscos resultantes de um contexto internacional cada vez mais preocupante. Multiplicam-se as tensões internacionais. Diz-se que é a Rússia que está por detrás dos conflitos internos na Estónia. Perante isso, a União Europeia, ainda a discutir como lidar com a permanência do Reino Unido, continua paralisada e Trump ignora os impulsos expansionistas de Putin. O seu foco são as eleições presidenciais do próximo ano e, para isso, alimenta o conflito com a China. Já estamos em crise, mas muitos temem que 2020 seja o ano da nova grande crise.
Professor universitário