As 12 badaladas que anunciam o novo ano trazem um rasto de esperança, quanto mais não seja pelo fim e princípio que significam.
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Ainda que a visão do Mundo nos mantenha pessimistas, a mudança de calendário é só por si promessa de renovação.
Que vai trazer o ano de 2019? Vários ciclos eleitorais se desenham, desde logo em Portugal, mas as eleições europeias poderão ter ainda maior repercussão nas nossas vidas, determinando o destino do projeto europeu. Os resultados decidirão se prosseguimos o caminho da fragmentação ou avançamos numa união que nos pode tornar mais relevantes, mais competitivos e mais capazes de enfrentar as ameaças. Que poderia valer cada país europeu isolado num xadrez internacional que as grandes potências reconfiguram?
Uma das lendas sobre a origem do xadrez conta que um rajá indiano, em conflito com os vizinhos, pediu conselho a um sábio que terá inventado o jogo para substituir a guerra iminente. Desde as mais antigas referências, por volta do século VII, o xadrez manteve as características essenciais de enfrentamento simétrico, com peças movendo-se de forma precisa para conseguir capturar o rei inimigo. O jogo foi introduzido na Europa pelos árabes e tornou-se tão popular que é frequente iluminuras medievais representarem reis, nobres e damas debruçados sobre tabuleiros. Desde então, tem sido um dos mais desafiantes jogos de estratégia, com memoráveis partidas internacionais, como aquela em que o americano Bobby Fischer derrotou o russo Boris Spassky, em 1972, no auge da Guerra Fria, desencadeando apaixonadas análises sobre a vitória Ocidental.
Olhando o Mundo contemporâneo como um tabuleiro de xadrez, parece que as regras foram mudadas e deixámos de saber como se move cada peça. Trump é exímio a baralhar o jogo e construir regras que só ele parece conhecer. Teria pouca importância se não afetasse todos. A inesperada retirada americana da Síria após um telefonema ao presidente turco é mais um sinal de volatilidade que espalha receios. "O Donald tem razão", disse Putin. Toma lá, dá cá na divisão do Mundo. Acrescente-se o confronto comercial com a China, a denúncia do acordo nuclear iraniano ou o afastamento do Acordo de Paris. Quando o xadrez foi inventado, o movimento das peças substituiu a guerra. Neste tabuleiro vivo, o longo braço dos donos do Mundo pega nas pequenas peças que somos nós e diverte-se a reinventar o jogo. Feliz Ano Novo!
*PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
