Corpo do artigo
13 de abril de 2024. 17 horas. Rua do Carvalhido. Porto. 27oC. Alguns metros à minha frente, segue uma jovem que ainda não terá 20 anos de idade. Veste T-shirt justa e calção de ganga. Esguia, bonita, com ar sonhador e a leveza da juventude, que tanto embevece.
Circula uma motoreta. O condutor, quando passa pela jovem, grita “puta!” e segue tranquilo e satisfeito.
Ela olha, sobressaltada, com uma expressão assustada e descrente. A face revela tudo o que lhe vai pela mente, enquanto revê o modo como se apresenta: “Puta? Eu? O que é que eu fiz?”. E a postura corporal vai-se encolhendo enquanto caminha mais rápido... Consigo imaginar o quanto deseja chegar ao conforto da sua casa. Quantas de nós passaram pelo mesmo?
Muito pouco depois, passa uma carrinha com vários homens que lhe buzinam não uma, nem duas ou três, mas cinco vezes. Ela já nem olha. Continua a caminhar. Como um autómato. Cada vez mais rápido.
Não resisto. Aproximo-me dela. Afinal, sou mãe de uma menina pouco mais nova. Digo-lhe o que gostaria que dissessem à minha filha em situação idêntica: “Não há nada de errado contigo”.
A miúda, tão jovem é, questiona: “Estou assim tão mal?”. “Não. Não estás. Nunca nenhuma mulher merecerá abordagens como aquelas. Ergue a cabeça e, quando te surgir outra situação idêntica, porque infelizmente vai surgir, lança-lhes o teu mais poderoso olhar de desprezo! Porque não merecem mais!”, respondo.
Ela esboça um sorriso, agradece e segue em frente, aliviada.
A relembrar este triste episódio da vida real, matuto naqueles que questionam a necessidade de organizações que defendem a igualdade de género, alegando que não se justifica na sociedade de hoje. Que as mulheres até têm mais direitos do que os homens... …
Têm? Quantos homens são abordados desta forma tão reles? A própria palavra usada não tem um sinónimo em calão para o masculino. Prostituto não tem tal nível ofensivo. Se mais não fosse, só pela existência deste tipo de situação, já se justifica a manutenção da defesa da igualdade de género. Continua a ser necessária a educação dos mais jovens. Os adultos que não a tiveram já não aprenderão... É como diz o ditado...

