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Festejamos todos o 25 de Abril, mas a maior parte dos que viveram a data antes dos dezoito anos de idade não têm uma consciência clara do processo de luta que nos levou até lá.
Quando muito, temos umas luzes sobre a questão da guerra colonial e sobre o movimento dos Capitães para logo entrarmos nos curricula das personalidades políticas que nos acompanharam durante os já mais de 40 anos de democracia, de Mário Soares a Álvaro Cunhal, de Sá Carneiro a Adriano Moreira; tendo naturalmente desempenhado um papel importante no desfecho democrático, não foram, longe disso, os únicos nem provavelmente os seus mais determinantes protagonistas.
A luta antifascista em Portugal tem centenas de protagonistas e milhares de pequenas histórias que em muito extravasam os grandes centros do Porto ou Lisboa.
Na província de então, do Norte ao Sul, muitos se movimentaram clandestinamente em sucessivas conspiratas que exigiram criatividade, abnegação e coragem de cidadãos mais ou menos preparados, mas firmemente determinados em fazer cair o regime de Salazar e Caetano.
Por razões de ordem familiar, coube-me estudar um pouco mais em pormenor a luta antifascista no distrito de Braga entre 1958 e 1964.
Foi trabalhoso encontrar os elementos que comprovam o clima de especial repressão com que o regime tratou esta cidade no contexto da campanha de Delgado, tendo liminarmente proibido a entrada do candidato, ao que o povo respondeu com uma enorme manifestação, mesmo que de "corpo ausente" do general, conforme relata Iva Delgado no seu livro "Braga - cidade proibida: Humberto Delgado e as eleições presidenciais de 1958".
Em 1961, uma especial atividade política deu lugar, em Braga, à apresentação de duas listas oposicionistas às eleições legislativas desse ano. Foi difícil, no entanto, encontrar as razões pelas quais os candidatos a deputados oposicionistas da Lista C viram a sua militância morrer na secretaria. A lista não foi aceite porque o governador civil entendeu que cinco dos candidatos só aceitavam a Constituição para efeitos eleitorais e dois eram funcionários públicos e não tinham autorização para concorrer.
Uma obra pouco conhecida publicada pela Assembleia da República relata estes e outros relevantes percursos: "Candidatos da Oposição à Assembleia Nacional do Estado Novo (1945-1973). Um Dicionário".
Foi, por último, quase impossível documentar referências a uma das conspirações mais delicadas do pré-25 de Abril, a "Organização Republicana" instigada, entre outros, pelo "conspirador-mor" capitão Carlos Vilhena e que teve a particularidade de envolver ativamente um ex-presidente da República - o marechal Craveiro Lopes.
Pequenos casos que envolveram diretamente o meu avô paterno, mas grandes exemplos de uma movimentação contínua que década por década sedimentou esta inevitável conquista da Liberdade.
Festejá-la deveria ser, em primeiro lugar, fomentar o conhecimento cabal dos seus primeiros construtores.
ANALISTA FINANCEIRA