A disputa pela liderança do PS está transformada na eleição de um candidato socialista a primeiro-ministro e este quadro é tão dominante que toma de assalto o perfil de António Costa e António José Seguro para responder à magna questão de perceber qual atrairá mais votantes em cotejo com Passos Coelho nas eleições legislativas do próximo ano. Já aqui expus a ideia de que os partidos deveriam servir para um pouco mais do que descobrir talentos para a função de liderar governos e mesmo que os tempos sejam dados aos pragmatismos de quem não tendo cão caça com gato, gostaria de insistir em questões de política e ideologia sobre as quais me parece que a sociedade civil ganharia em ser elucidada e melhor poder escolher. São questões em relação às quais ganharíamos todos, e não só os socialistas, em conhecer o pensamento e o modo de o praticar de Costa e Seguro. Porque, afinal, todas elas dizem respeito ao reforço da democracia, sem o qual não conseguiremos o suficiente consenso para a mobilização de pessoas e recursos atinentes a uma vida nova, mas que não seja uma vida em que tenhamos de aceitar novas limitações ao exercício dos direitos humanos e novas reduções do poder de governos eleitos livre e pacificamente.
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Não serão assim tantas as questões essenciais. Talvez sejam mais do que as seguintes, mas responder a estas três é essencial.
A primeira - essencial para estancar a sangria da classe média e travar a pobreza - respeita à questão de sabermos se será possível, e de que modo, o Governo utilizar o sistema fiscal para redistribuir a riqueza nacional de um modo socialmente mais justo, de modo a gerar emprego e lograr novas circunstâncias tendentes a recuperar mercado interno, logo boa parte das nossas pequenas e médias empresas.
A segunda - essencial para estancar a dívida soberana e travar a pressão dos mercados sobre os juros - respeita à questão de sabermos quais são os trunfos do futuro candidato socialista a primeiro-ministro de Portugal para conseguir aliados entre os chefes de Estado e de Governo europeus que lhe garantam cobertura política para as respostas que venha a dar à primeira questão, ou seja, a da nossa classe média, da nossa oferta de emprego e do nosso mercado interno.
A terceira - essencial para estancar a desconfiança dos cidadãos relativamente à democracia - respeita à questão de sabermos em que grau e medida os candidatos socialistas a primeiro-ministro estarão, ou não, disponíveis para incorporar novas formas de incentivo à expressão da vontade popular, como poderia ser o caso de promover ao nível nacional os orçamentos participativos que já existem ao nível municipal, ou ainda como poderia ser o caso da possibilidade de podermos exercer o nosso direito de voto por meio eletrónico.