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As mais importantes eleições que temos pela frente têm um problema: não podemos votar nelas. São dentro de três semanas, nos Estados Unidos, e a contagem de votos condiciona a nossa vida e o Mundo tal como o conhecemos.
Hillary Clinton ou Donald Trump. Deste, descobre-se dia após dia que o rosto coincide com a caricatura: um charlatão, desbragado na língua e grosseiro no trato, racista, demagogo, marialva e fanfarrão, enfim, em modo fino nova-iorquino, uma espécie daquele nosso execrável taxista a quem vimos e ouvimos dizer que as leis são como as virgens, ambas para violar. Só que, no caso do republicano candidato à Casa Branca, ele seria capaz de bloquear, não a do Relógio mas as principais rotundas do Mundo e do comércio à escala global. Não por acaso, o próprio FMI adverte que o débil crescimento mundial favorece o populismo, defensor do encerramento de fronteiras. E tudo em nome de um gigantesco embuste: o de que o problema são os imigrantes e que o comércio livre rouba empregos nacionais. Nem de propósito, a revista "Politico" submeteu a rigoroso exame todas as intervenções públicas de Trump (discursos, entrevistas, etc.) durante cinco dias. O resultado do estudo revela a média de uma mentira, um exagero ou uma contradição por cada três minutos e quinze segundos, ao longo de cinco horas.
Mas há Hillary Clinton. As sondagens dão ligeira vantagem à democrata, cuja vitória, depois dos mandatos do primeiro negro que chegou à Casa Branca, representaria a eleição da primeira mulher para a presidência da mais poderosa nação do Mundo. Dela já conhecemos a dinasta de políticas que prometem continuar os legados do marido, Bill, e do presidente cessante, Obama. Os detratores acusam-na de todos os males do sistema que domina Washington e denunciam-lhe o pecado da ambição, desenterrando a anedota que se contava nos anos 90: Numa pausa de viagem, Hillary e Bill encostam numa estação de serviço. Ela mete conversa com o gasolineiro e, de volta ao carro, pergunta-lhe Bill:
- Quem era aquele?
- Joe? Foi o meu último namorado, antes de ti.
Bill sorri indulgente e comenta:
- Tiveste sorte, escolheste o que chegou a presidente.
- Querido - respondeu ela -, se me tivesse casado com Joe, ainda hoje eras tu o gasolineiro.
Sem admiti-lo, os críticos de Hillary pensam que as grandes metas são coisa para homens. Ser a primeira candidata à presidência dos Estados Unidos num Mundo assim tem mérito. Disputar o mais poderoso cargo do Mundo contra um misógino como Trump é mais que obra, é uma gesta. A ambição desta mulher está à altura do desafio.
* DIRETOR