No momento em que se soube que a dívida portuguesa é a quinta mais alta do planeta, com novo recorde de 133,1 % do PIB, o Governo deixou para o Estado e os contribuintes a dívida da Carris - 813,2 milhões de euros - transferindo a empresa limpinha para a Câmara Municipal de Lisboa. Justificando o negócio da China, o primeiro-ministro disse:
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- A Carris "não deve ser um produto financeiro. Antes, tinha de produzir EBITDAS e não transportar pessoas. Mas a função primeira é de ser uma empresa para servir pessoas. A natureza pública garante que a função não é desvirtuada".
Mesmo sabendo-se que enquanto houver dinheiro dos contribuintes o socialismo acontece, a confissão era escusada.
O primeiro dos governantes, num país saído há pouco mais de dois anos de uma situação de emergência financeira, que tem na dívida o mais implacável fator negativo, de um desequilíbrio macroeconómico que nos penaliza todos os dias, dá como sinal, em relação a uma empresa que para além das greves se foi notabilizando pelos milhões de prejuízos acumulados, a mensagem de que a boa gestão é uma questão de somenos. António Costa só não percebe que se transportar pessoas pela Carris pode ser uma função pública, o dinheiro não nasce nas árvores. E no caso, para que em Lisboa tenha como normal que a Carris possa funcionar sem fazer contas, há milhões de contribuintes, grande parte dos quais nunca porão o pé num autocarro, elétrico ou ascensor da capital, que pagarão com parcelas do seu trabalho e esforço, transformadas em impostos, o preconceito ideológico de quem manda na "geringonça".
Entende-se assim que, entre 2005 e 2011, governos que António Costa integrou tenham recebido uma dívida pública de 62 % do PIB, equivalente a 79 mil milhões de euros, e em 2011 tenham deixado para muitas gerações pagarem uma dívida de 111,4 % do PIB, de 170 mil milhões de euros, a par da troika.
Do mesmo modo, quando agora o Banco de Portugal informa que no terceiro trimestre de 2016 a dívida atingiu um valor de 244 420 milhões de euros, crescendo em cadeia e em termos homólogos, o primeiro-ministro deu uma entrevista para dizer que em Portugal se respira um "clima de tranquilidade".
Com o devido respeito, é preciso não ter noção. Explica que em cada bancarrota que trouxe, para o PS a culpa foi sempre de quem depois teve de pagar as faturas. E que quando quem manda se mostra incapaz de aprender com os erros, o mais certo será que tudo se possa repetir.
* EURODEPUTADO