A taxa de juro do empréstimo que nos será concedido é elevada. Mesmo que as melhores hipóteses de crescimento se concretizem, e a não ser que a inflação na UE suba muito, o serviço da dívida levará quase tudo. Se não morremos da doença, parece que morreremos da cura. Que fazer? No ponto a que chegamos, a prioridade deve ser dada à recuperação da reputação internacional que nos permita, num prazo curto, renegociar as condições e, em particular, as taxas de juro. Para isso, de uma maneira ou de outra, temos de cumprir o acordo estabelecido com a tróica internacional, em especial no que diz respeito aos limites do défice. Sem sermos masoquistas, acautelando o máximo de coesão social possível e procurando minimizar o efeito recessivo decorrente das medidas previstas no memorando.
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Só boas intenções não bastam. Com a economia mundial a crescer, há oportunidades a explorar. Exportar mais (e importar menos) é uma forma virtuosa de tentar contrariar o impacto da redução da procura interna que decorre das medidas de combate ao défice. Nos mercados internacionais, salvo raras excepções, Portugal ainda compete com base no preço. Uma desvalorização permitiria posicionarmo-nos para melhor aproveitar a dinâmica de crescimento mundial. Não sendo possível, resta-nos tentar baixar os custos, tendo a noção de que será praticamente impossível conseguir reduções que se aproximem das que resultariam de uma desvalorização (recorde-se, porém, que esta significa uma enorme penalização dos rendimentos do trabalho).
Com este propósito, o memorando prevê uma baixa da taxa social única (TSU), a chamada desvalorização fiscal, tendencialmente limitada às empresas exportadoras. Posta nestes termos, a medida parece-me difícil de concretizar, a começar no conceito (o que é uma empresa exportadora?) e a acabar na legislação europeia (é legal essa diferenciação?), já para não falar em que, se o objectivo é crescer, então, mais do que o valor das vendas ao exterior, deve-se ter em conta o valor acrescentado nacional (o que, diga-se, invalida muito do discurso sobre o baixo valor acrescentado dos sectores tradicionais). Tudo somado, é provável que a maneira expedita de pôr em prática esta proposta seja aplicá-la, por igual, a todas as empresas o que, por sua vez, terá implicações no orçamento da segurança social. Mesmo que sobrestimado, por ignorar os efeitos de criação de emprego da medida, serão necessárias compensações, leia-se aumento de impostos. Na escolha de "quais e quanto" pode estar um mundo de diferença entre quem paga os custos. Complicado. Por comparação, um alargamento da jornada de trabalho parece mais simples. Meia hora por dia tem um efeito líquido sobre os custos de produção superior à redução da TSU prevista. Há uma condicionante (só é relevante onde houver procura) e um efeito negativo (limita a criação de novos empregos). Além de que os eventuais ganhos deveriam ser repartidos.
Haverá outras alternativas e serão possíveis combinações. Analisem-se e discutam-se norteadas por "4R": reforçar (a capacidade de concorrer), reduzir (o défice), readquirir (reputação), renegociar (a dívida).