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Lamento muito por quem não tem amigos, ainda mais por quem os perdeu. Penso bastante nisso, nesse eventual trágico dia em que poderei perder um amigo, certo do quão penoso será que ele desapareça, e penso ainda mais na angústia, tristemente pior, de saber que se esse dia não chegar é porque chegou para mim. São porém esses amigos, os que significam a privação futura, quem mais facilmente nos faz esquecer essa inquietude permanente de viver com o risco de os perder. Não visceralmente, como com um filho ou um amor já rijo, antes serenamente, com a força das coisas mansas e constantes.
Tenho a sorte de ter muitos amigos, de ter muitas pessoas que confiam em mim o suficiente para que eu possa confiar nelas. Alguns deles estão longe - uns mesmo muito longe -, e outros estão aqui ao lado, sentados a esta mesa sem pressentirem que estou a escrever sobre eles e sobre todos os meus amigos, os que me confortam, sem o saberem, na certeza que tê-los e senti-los será sempre assim, tão difícil como o instante do primeiro mergulho no mar, tão bom quanto sentir o sol a aquecer-nos a cara quando regressamos ao Mundo.
* JORNALISTA