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Acordamos e não conseguimos escapar. Há um candidato à presidência dos Estados Unidos da América que se gaba de tentar conquistar uma mulher casada e sobre o privilégio de poder apalpar mulheres nos órgãos genitais só porque é uma estrela. Um taxista diz publicamente que as meninas virgens e as leis são para ser violadas. No Facebook, grassam os impropérios, os atropelos e o permanente alvoroço, como se a vida quotidiana não passasse de uma sucessão de explosões de escândalos e ofensas à moral vigente. Liga-se a televisão e tudo é alvoroço, desordem, distúrbios e alertas. Tudo é ruído. Vive-se em ininterrupto estado de sítio. Na política, ainda que o acordo à Esquerda tenha finalmente - e ainda bem - trazido alguma paz social, mesmo que forçada (onde andam Arménio Carlos e Mário Nogueira?), as tropas arregimentadas para defender os partidos na TV são agressivas, ácidas e debatem qualquer assunto, qualquer alínea de portaria governamental, como se de um duelo até à morte se tratasse. Gritam, exaltam-se. Vivem da hipocrisia e julgam que não temos memória. O futebol e os comportamentos de bancada tomaram de assalto a atenção coletiva. O espaço público foi sequestrado pelo medo, pelo vazio e pela ignorância. Pior do que tudo: não há maneira de travar isto.
* JORNALISTA