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1. O líder do PSD tem razão: o Governo socialista não conseguirá, este ano, um crescimento do PIB (o total de riqueza produzida no país) igual ao do ano passado. Ou seja, comparados os dois últimos anos, António Costa ficará a perder para Pedro Passos Coelho. Só não se sabe ainda por quantas décimas. Mas, se não se vislumbra razão para grandes euforias entre os partidos que compõem a "geringonça", soa a desatino que Passos fale em "crescimento medíocre" e "morte lenta". Por três razões. Primeiro, é o mesmo político que ainda há poucos meses anunciava a chegada do Diabo, previsão que não se cumpriu. Segundo, porque é o mesmo político que esteve à frente de um Governo responsável (com a queda de 4,03% do PIB, em 2012) pela pior recessão desde 1975. Terceiro, porque o crescimento tem de ser um meio para atingir um fim e não um fim em si mesmo. Ora, ainda que o crescimento neste primeiro ano do consulado de Costa venha a ser um pouco abaixo do crescimento do último ano de liderança de Passos, tem pelo menos o mérito de se articular com a recuperação de rendimentos (redução da sobretaxa de IRS, devolução de salários aos funcionários públicos, aumento do salário mínimo, aumentos nas prestações sociais). Ou seja, os portugueses sentem, depois de vários anos de asfixia, que o crescimento do país pode ter reflexo (pequeno, mas real) nas suas carteiras. Faz toda a diferença, como já perceberam muitos no PSD. E se o discurso do líder não muda, é bem possível que o partido mude de líder.
2. Foi ainda em 2011, logo na sua primeira aparição no Parlamento enquanto primeiro-ministro, que Pedro Passos Coelho anunciou o saque de metade do subsídio de Natal a todos os trabalhadores portugueses. Era para ser uma medida extraordinária, mas acabou por ficar. Para não parecer que dava o dito por não dito, o Governo PSD/CDS mudou-lhe o nome para sobretaxa de IRS, mas nem por isso deixou de ser um saque. Há cerca de um ano, quando nasceu o Governo PS, apoiado por PCP e BE, ficou a promessa solene de que este (2016) seria o último ano de saque. Promessas (incluindo as que ficam inscritas na lei) leva-as o vento e, depois de vários avanços e recuos, a sobretaxa fica para 2017. Argumenta o Governo que os que ganham menos (segundo escalão de IRS) a pagarão pela última vez em dezembro deste ano, garantindo assim uma espécie de progressividade fiscal. Acontece que o facto de penalizar "apenas" os portugueses que estão nos três escalões mais altos de IRS não a torna mais justa. A justiça fiscal não se pratica com instrumentos de saque aos contribuintes. Nem com mentiras.
* EDITOR-EXECUTIVO