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É um dos mais cansativos subprodutos da modernidade, isto de estarmos obrigados a acompanhar os pormenores das férias de alguém que se conhece, bem ou mal, via fotos no Facebook. Eu acho que a fotografia é umas das mais incríveis expressões artísticas e uma maravilhosa sublimação do fugaz. Nenhuma outra forma de representação perene, na sua perfeição instantânea, é tão fascinante porque uma fotografia é a repetição eterna, na captação da mínima unidade de tempo, do que é impossível repetir-se. Ora, é isto mesmo que está naquelas fotos de praia e de mar e de hotéis e de pés e de sorrisos que nos perseguem nas redes sociais, embora também sirvam para nos lembrar que não estamos de férias, ou que as nossas férias não são tão boas como as dos outros. Ao fixarem aquele momento de felicidade, esses amigos e conhecidos estão precisamente a tentar ultrapassar essa grave limitação que nos impõe o tempo, que não volta para trás, mesmo que ande para a frente apenas um só instante. É até bastante bonito: há beleza em todas as batalhas perdidas. Mas acharem que os outros têm todos de os ajudar nessa luta, já me parece demais. Uma fotografia é mais memento mori - uma prova de que estamos a envelhecer -, do que o contrário. E por isso mesmo já me basta ter a minha, igual à deles, também perdida batalha para travar.
* JORNALISTA