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1. A necessidade de colocar a contribuição financeira para a NATO, de todos os países da União Europeia, em 5% do PIB impôs-se quase sem debate. No início, no contexto do apoio à Ucrânia, estava em causa o cumprimento de uma contribuição de 2%, mas as exigências e o comportamento errático de Donald Trump rapidamente fizeram escalar a meta para 5%. Nesse passo, a Europa parece ter-se esquecido da paz e da metodologia da sua construção. Sem colocar em causa a importância da NATO, impõe-se, neste momento, questionar se estamos perante uma nova TINA (sigla inglesa para “there is no alternative”), à semelhança da que marcou a chamada crise europeia das dívidas soberanas.
2. Em 1950, a Declaração Schuman propunha que a organização comum da Europa se fizesse por pequenos passos, mas lançando, simultaneamente, “as primeiras bases concretas de uma federação europeia”. A ideia inicial era organizar cooperativamente a produção e distribuição de recursos que, sendo centrais para a industrialização da guerra, eram ainda mais necessários em processos de desenvolvimento económico e social. Hoje, 75 anos depois, quando se multiplicam as ameaças de guerra no Mundo, os líderes europeus parecem convergir numa proposta inversa: desviar parte da riqueza produzida na União Europeia para sustentar o esforço de guerra, ainda que à custa de novos processos de austeridade social, e congelar o desenvolvimento do processo europeu de integração.
3. A União Europeia nunca construiu um sistema e uma política comum de defesa. Há intervenções pontuais da União Europeia enquanto fornecedor de segurança em crises externas, mas a defesa coletiva foi deixada à NATO e aos EUA. Na Europa, há países com poder nuclear, outros com indústrias militares fortes, mas faltam forças armadas comuns, quer no plano tecnológico, quer no domínio organizacional, e falta uma indústria militar europeia com escala. A fragmentação, os problemas de compatibilidade, a falta de comando único e a ausência de escala na defesa europeia são a base de um paradoxo: a soma das despesas em defesa pelos países da União Europeia tem um valor elevado, mas falta eficácia, falta equipamento e investimentos que só terão escala de viabilização no plano europeu.
4. No curto prazo, a Europa talvez precise de gastar um pouco mais para recuperar do atraso tecnológico que tem, mas mais urgente do que uma meta ligeiramente acima dos 2% é a resolução dos problemas de integração. Há alternativa ao aumento da despesa militar com a consequente redução de recursos para a economia e o estado social? Há: mais integração.