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Vamos a votos, neste domingo, para escolher os deputados que representarão os cidadãos portugueses no Parlamento Europeu nos próximos cinco anos. É verdade que as decisões políticas não se esgotam no Parlamento. A Comissão Europeia, com o seu corpo de comissários, e o Conselho, que reúne os primeiros-ministros, têm uma participação no processo de decisão muitas vezes desalinhada e com mais expressão pública do que o Parlamento. É necessário um conhecimento e escrutínio mais difundidos da ação de todos estes órgãos.
Na conjuntura que atualmente vivemos, estas eleições são de enorme importância, talvez das mais importantes deste século. A Europa tem pela frente, nos próximos cinco anos, desafios que podem marcar o seu futuro e que exigirão novas capacidades de negociação e de decisão. Destaco apenas dois desses desafios.
Em primeiro lugar, a Ucrânia ou, melhor dizendo, a guerra e a paz. A Europa foi construída como projeto de paz, não de guerra. Se hoje participa numa guerra é para se defender, a si e à Ucrânia, do ataque da Rússia, ataque motivado por uma perigosa visão imperialista do Mundo. A Ucrânia, nos próximos cinco anos, continuará a estar no centro das preocupações da União Europeia, seja pela continuação do esforço de guerra, seja pelo necessário envolvimento diplomático na procura de uma solução de paz, seja ainda pelo esforço de reconstrução necessário quando o conflito terminar. Nos próximos cinco anos, muitas decisões terão de ser tomadas no Parlamento Europeu. Os objetivos de uma Europa de paz, sem capitulação perante a Rússia, deviam aqui ser preservados. Trata-se de uma equação de difícil resolução. Por exemplo, como reforçar a indústria de defesa europeia sem ficar prisioneiro dos interesses desta nas lógicas de guerra? Ou sem criar uma dinâmica forte anticonvergência?
Em segundo lugar, a política de imigração. Foi já aprovado um novo pacto para as migrações e os refugiados. Aparentemente, no debate público, poucos se reconhecem nele. Aceitam-no como um mal menor que não resolve qualquer dos graves problemas associados às migrações. O mais importante desses problemas é a relutância da Europa em encarar o fenómeno das migrações como inevitável e, nesse quadro, decidir de forma consequente se vai ser uma terra de integração e acolhimento ou se vai construir um muro à sua volta, pagando caro a exportação do problema. Os valores do humanismo e da defesa da dignidade humana, em que também assenta o projeto europeu, estão a ser postos à prova todos os dias com as tragédias vividas no Mediterrâneo e nos campos de refugiados.